quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fernando Rodrigues: Brasil assimétrico

Duas notícias mostraram ontem como o Brasil convive com bolsões de atraso e de possível modernidade. Tudo num só governo, sob a mesma presidente.

Na categoria "Brasil profundo", a Advocacia-Geral da União resolveu entrar na Justiça em Goiás para proibir quem avisa pelo Twitter o horário e o local de operações de fiscalização do trânsito. Ao tentar controlar o incontrolável, a AGU retrocede no tempo, agride a liberdade de expressão e se iguala -em certa medida- ao governo do Irã, que proibiu naquele país o desenho animado "Os Simpsons".

Desde tempos imemoriais, tem sido comum alguém avistar uma batida policial e recomendar a um amigo que evite o local. Até porque no Brasil as forças de segurança mais colocam medo do que transmitem tranquilidade aos cidadãos. Essa percepção da sociedade se acentuou na ditadura militar. Pouco se faz para corrigir tal distorção.

Não é criminalizando quem usa o Twitter para avisar sobre uma blitz que se conserta uma realidade. A iniciativa, patética, exprime o desapreço de parte da administração federal pelo direito dos cidadãos de se expressarem livremente.

Em contrapartida, ontem também foi anunciado o nome de Eleonora Menicucci como nova ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres. No seu perfil publicado por uma revista, ela afirma: "Me relaciono com homens e mulheres e tenho muito orgulho de minha filha, que é gay e teve uma filha por inseminação artificial".

É incomum uma ministra apresentar de maneira tão aberta suas convicções pessoais. Ex-presa política na ditadura, Menicucci declara-se desde sempre a favor da descriminalização do aborto. A franqueza não garante a ela sucesso no cargo. Mas é bom quando tabus são tratados à luz do dia. E ajudam a esquecer um pouco a tresloucada iniciativa anti-Twitter da AGU.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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