quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Grécia a pão e água ou adeus:: Vinícius Torres Freire

Líderes da União Europeia falam cada vez mais de intervir no governo grego ou lançar o país ao mar

Os donos da eurolândia tentaram manter alguma discrição quando derrubaram o governo socialista grego, na prática pediram a nomeação de um interventor tecnocrata, um eurocrata, em novembro do ano passado. Agora, o deboche baixou de nível.

Autoridades alemãs, para nem mencionar outras menos cotadas, falam abertamente de adiar eleições na Grécia (previstas para abril) e de nomear um governo provisório sem políticos, de modo a enfiar pela goela grega o novo compromisso de arrocho.

O braseiro do churrasco grego estava em alta em novembro de 2011. A praça financeira do mundo ameaçava chiliques. Mas, em dezembro, o Banco Central Europeu na prática deu dinheiro aos bancos da eurozona. Foi uma vacina contra os riscos de quebra iminente de uma instituição financeira, o que por tabela anestesiou os paniquitos do mercado.

Desde então, voltou também a conversa sobre a possibilidade de colocar a Grécia para fora da zona do euro. Em novembro, comentava-se à boca pequena a possibilidade de secessão monetária, de um "euro norte" e um "euro sul" (dos países quebrados), uma solução muitíssimo mais dramática, para não dizer catastrófica mesmo. O que mudou desde então?

O plano dos donos da União Europeia de empurrar a crise com a barriga, de dividir a dor em prestações, pode "dar certo".

O plano básico era evitar que a Grécia (ou países menos avariados) decretasse um calote unilateral e, ao mesmo tempo, manter o país a pão e água, de modo a evitar o descrédito total do "programa de estabilização fiscal" grego (que, no entanto, prevê dívida de 120% do PIB em 2020, na melhor e idioticamente otimistas das hipóteses).

Ressalte-se o "total", pois descrédito havia e há. A economia grega encolheu mais do que o previsto (está em depressão), arrecadou menos e poupou menos.

Logo, a dívida cresceu.

A cada tropeço desse "plano A" as autoridades europeias se desdiziam e adotavam medidas de emergência antes negadas de pés juntos (como comprar títulos de dívida de governos, admitir um calote parcial da Grécia no setor privado, dar dinheiro a bancos etc.).

Porém, a combinação da política de cabresto curto (arrocho, redução feia de salários, enfim) e de ameaças financeiras e políticas colocou na linha dura países como Irlanda, Portugal e até mesmo Itália.

Por outro lado, os remendos que a cúpula da União Europeia colocou nas contas de bancos e governos da eurozona criaram uma "rede de proteção" financeira, embora ainda precária.

Deve ser por isso que começaram a pipocar, desde fevereiro, declarações de lideranças europeias a respeito da possibilidade de lançar a Grécia ao mar.

Não se trata de dizer que tal coisa vá ocorrer em março, por exemplo, quando o governo grego tem uma conta enorme para pagar e nenhum tostão. Nem de aceitar sem mais que o sacrifício da Grécia não vá causar tumulto.

Mas parece que vão sendo criadas as condições para colocar a Grécia na prancha do navio. A eurolândia se protege do desastre. Se os gregos não quiserem viver a pão e água, que se afoguem.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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