quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Privatização não é questão ideológica, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a privatização dos aeroportos ajuda a "desmistificar" o "demônio privatista". Para ele, a privatização não é "questão ideológica". O consórcio que venceu a concessão do Aeroporto de Viracopos disse que o investimento será R$ 3,5 bilhões menor que o previsto

Para FHC, Dilma "desmistifica demônio privatista"

Sem citar PT, tucano critica partido e diz que participação da iniciativa privada em serviços públicos não é "questão ideológica"

Gustavo Uribe, Vera Rosa

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Enquanto líderes tucanos aproveitaram a concessão de três aeroportos à iniciativa privada para criticar o PT, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) citou o episódio para destacar que as privatizações não devem ser encaradas como "questão ideológica".

Em vídeo divulgado na internet, FHC ressaltou que a privatização dos aeroportos na atual gestão petista ajuda a "desmistificar" o que classificou de "demônio privatista", em referência indireta às críticas do PT ao PSDB durante o mandato dele e nas campanhas eleitorais. "Tudo isso são fantasmas que estão desaparecendo, porque o Brasil está mais maduro."

"A privatização não é uma questão ideológica, é questão que depende das circunstâncias, como aumentar a capacidade de gerenciar, aumentar a oferta de serviço", disse o ex-presidente.

FHC apontou semelhanças entre o modelo adotado pela presidente Dilma Rousseff e o que vigeu no governo tucano. "Quantas críticas eu ouvi porque o BNDES participava da privatização... E agora? Continua participando, e tem que participar", afirmou. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai financiar os investimentos que as empresas concessionárias serão obrigadas a fazer nos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília.

Outra semelhança destacada foi a participação de fundos de pensão nas privatizações - como no governo tucano, entidades de previdência de empregados de estatais se associaram a grupos privados para participar da privatização dos aeroportos. "Os fundos de pensão são para isso, são para investir", disse FHC. "Não tem nada de negativo nisso."

Anteontem, o ex-governador de São Paulo José Serra ressaltou que a privatização dos aeroportos foi "satanizada" pelo PT durante a campanha presidencial de 2010 e ironizou o que considerou uma mudança de discurso do partido. "Sem explicar porque mudou tanto de ideia, o governo do PT deu uma volta de 180 graus e começou a concessão de aeroportos", escreveu ele na rede de microblogs Twitter. "Vocês podem imaginar o escândalo que o PT faria com uma privatização dessas nos aeroportos se não fosse ele o autor?"

"Enganaram o povo e nos desacreditaram", disse anteontem o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), acusando os petistas de cometer "fraude e estelionato eleitoral".

Área estratégica. Diante ofensiva tucana, a cúpula do PT preferiu evitar a polêmica. Líderes do partido argumentaram ontem que a aviação não é uma área estratégica para o País, como os setores de energia elétrica e telecomunicações, privatizados no governo FHC.

"Não estamos falando de um setor estratégico e não entregamos para a iniciativa privada o controle aéreo", disse o senador Humberto Costa (PE), um dos vice-presidentes do PT.

Para Costa, o leilão dos aeroportos é "muito diferente" da privatização das teles levado a cabo pelo PSDB. "Fizemos uma concessão porque é preciso agilidade para adequar a estrutura aeroportuária para a Copa de 2014", insistiu. "Lá na frente, o patrimônio volta para a União."

O ex-ministro José Dirceu, em seu blog, foi pela mesma linha: "Querem fazer crer que promovemos privatizações iguais às deles (dos tucanos)", protestou. "Nada a ver com aquele processo em que venderam nosso patrimônio público a preço de banana."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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