quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

PSB é governo em 21 Estados e 17 capitais

Vandson Lima 

SÃO PAULO - Partido que registra um crescimento sem solavancos em seu número de prefeitos e deputados federais desde 2000 - teve seu número de governadores diminuído de quatro para três entre 2002 e 2006, mas cresceu para seis governadores em 2010-, o PSB, conforme mostra levantamento do Valor, é hoje sinônimo de legenda alinhada à máquina pública. Está na situação em 21 Estados e em 17 capitais brasileiras.

Além de comandar seis Estados, o PSB compõe a base aliada em outras 15 federações. Nas capitais a conta é semelhante: o partido tem a prefeitura de quatro capitais e oferece seu apoio em outras 13. Na maioria dos casos, com presença de integrantes da sigla em cargos no primeiro escalão. Apenas no Amazonas e Rio Grande do Norte o PSB é oposição tanto à prefeitura da capital quanto ao governo estadual.

Capitaneado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o PSB prepara-se para em 2012 alargar sua representação no grande espaço de disputa da política brasileira atual: o centro, território dominado pelo PMDB e visado pelo recém-criado PSD.

O secretário-geral da sigla e governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, explica a postura adotada pela legenda. "O PSB considera que as pessoas querem resultado, não falatório. Isso faz com que nossos parlamentares busquem dar suporte aos governos. Temos um critério de acompanhamento das alianças, mas de fato não há veto automático a nenhum partido", afirma.

"Somos um partido preocupado em governar, conquistar e fazer bom uso do poder", diz o governador do Ceará, Cid Gomes. "Mas me preocupa que possamos ser taxados de adesistas, porque penso que não é o caso. O PSB iniciou seu crescimento em oposição ao poder", ressalva.

O cientista político Jairo Nicolau crê que em tal cenário - no qual partidos põem em segundo plano o discurso ideológico em favor do mantra da gestão eficiente e abarrotada de indicadores - predomina a lógica do acúmulo de espaço e aliados. "O PSB está passos à frente de partidos como o PDT, o PP e o PTB, que também fazem coligações a depender das circunstâncias. Seu diferencial é que, além de ter conquistado um número considerável de governos estaduais, o PSB deslocou o PMDB do posto de partido mais relevante em alguns Estados, especialmente no Nordeste".

O caso de Pernambuco é sintomático. Três vezes governador do Estado, Miguel Arraes (PSB) viu sua intenção de exercer mais um mandato abatida pelos mais de 1 milhão de votos de diferença impostos por Jarbas Vasconcelos (PMDB) na eleição de 1998. Doze anos depois, em 2010, foi a vez do neto de Arraes, Eduardo Campos, concorrendo à reeleição, enfrentar o adversário pemedebista. E desta vez, impor a Jarbas uma derrota acachapante, com uma diferença de mais de 3 milhões de votos. Hoje, o PSB detém 48 prefeituras em Pernambuco. O PMDB, 11.

Requisitar parlamentares de outras legendas foi o caminho encontrado para que o PSB fosse, em alguns Estados, construído do chão. No Piauí, o então deputado federal Wilson Martins, que em 2002 se elegera para seu terceiro mandato consecutivo pelo PSDB, deixou o partido e assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Rural do governo de Wellington Dias (PT), bem como a direção de um PSB praticamente inexistente no Estado, com dois prefeitos eleitos em 2004, em cidades de não mais que 3 mil habitantes.

Vice na chapa que reelegeu Dias em 2006, Wilson Martins assumiu o governo em 2010, quando o titular deixou o cargo para buscar uma vaga no Senado. A essa altura, já tinha feito do PSB uma das forças políticas do Piauí, com 38 prefeitos eleitos em 2008. Reeleito, o governador projeta em 2012 eleger até 70 dos 223 prefeitos do Estado, com especial atenção à capital Teresina, onde deve lançar à disputa seu secretário da Educação, Átila Lira, outro ex-tucano.

A passagem de um vice do PSB para titular da cadeira não é novidade para o partido. Em Curitiba (PR), Luciano Ducci assumiu a prefeitura em 2010 no lugar de Beto Richa (PSDB), que concorreu e venceu a eleição ao governo estadual. Em João Pessoa (PB), Luciano Agra virou prefeito após o correligionário Ricardo Coutinho deixar o cargo e também alcançar o governo. Ducci buscará a reeleição neste ano com apoio tucano. Agra desistiu recentemente de concorrer a um novo mandato.

Em situação oposta à do partido no resto do país está Santa Catarina, onde o PSB hoje tem um prefeito e poucas pretensões para 2012. O presidente estadual da sigla, Geraldo Althoff, assumiu o partido em setembro, quando Eduardo Campos já tinha fechado um acordo com o governador local, Raimundo Colombo (PSD), no qual cedeu ao PSD o tempo de rádio e televisão a que o PSB teria direito nas cidades catarinenses. "Nossa prioridade, neste momento, não é eleger prefeitos, então o número de candidatos realmente será inexpressivo. Temos de reestruturar o PSB no Estado", diz Althoff, ex-senador pelo PFL e secretário estadual da Defesa Civil.

Se no plano nacional o partido não restringe parceiros, é nas costuras locais que a questão pode ser mais bem verificada. Integrante da coligação que buscou a reeleição de Ana Júlia Carepa ao governo do Pará e perdeu, o PSB aceitou a oferta do governador eleito, Simão Jatene, para permanecer com a Secretaria Estadual de Justiça - e consequentemente, pulou para a base de apoio do ex-adversário. Para a sucessão da capital, o PSB avalia lançar o jovem deputado estadual Cássio Andrade ou oferecer seu apoio a qualquer um dos pré-candidatos postos - com maiores chances de sucesso nas negociações com os postulantes de PPS e PSOL, e menores para PSDB e PMDB.

Em São Paulo, o partido lançou candidatura própria ao governo com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (hoje no PMDB). Sem sucesso, aceitou a proposta de Geraldo Alckmin (PSDB) e assumiu a Secretaria de Turismo com Márcio França, presidente estadual do PSB, até então um dos nomes pautados para assumir um ministério no governo da presidente Dilma Rousseff (PT) na cota de seu partido. Para 2012, em que pese a boa relação com os tucanos paulistas, o partido é cobiçado também por outros parceiros: o PSD, do prefeito Gilberto Kassab, e o PT, que lançará o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.

Hoje, o PSB tem pelo menos 15 pré-candidaturas a prefeituras de capital, mas o número dos que devem realmente ir à urnas é menor. As tratativas para que a sigla componha alianças estão mais adiantadas em Rio Branco, Goiânia, Fortaleza, Salvador e Recife com o PT; em Campo Grande e Rio de Janeiro com o PMDB; em Florianópolis com o PSD e em Porto Alegre com o PCdoB.

"O PSB cresceu com essa política de alianças mais amplas, não há dúvida. Mas do ponto de vista pedagógico, isso pode ter o preço de confundir o eleitor, não deixar claro a ele qual a posição do partido", avalia o senador João Capiberibe (AP). Neste ponto, o governador Cid Gomes é taxativo. "Temos uma aliança com o PT no plano federal, ajudamos a eleger Dilma e participamos do governo. Se o PSB quiser ter candidato próprio à Presidência da República em 2014, acredito que em algum momento terá de entregar os cargos que tem e passar um período na oposição. Ou não terá discurso para oferecer", avalia.

Para Jairo Nicolau, o desafio do partido é outro. "O PSB ainda é um partido sem diferencial, sem uma bandeira exclusiva que atraia a classe média. Necessita também de lideranças mais expressivas em Minas Gerais e São Paulo, que são os maiores eleitorados do país", observa.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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