segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Refazer o orgulho :: Cristovam Buarque

O Brasil é um dos poucos países com base na Antártica. Ao longo de mais de 20 anos, tem mantido de forma permanente grupos de cientistas e militares que se revezam, tentando entender aquele continente e as consequências de seu clima para o futuro do planeta. Ali são feitas pesquisas sobre a vida marinha em baixas temperaturas, sobre fontes de alimentos de microrganismos, pesquisas sobre as mudanças climáticas e inclusive sobre recursos naturais disponíveis. Além disso, ali o Brasil mostra que aceita desafios. Não temos como enviar uma tripulação ao espaço sideral, mas não fugimos de ter nossa base na Antártica e sentimos orgulho por isso.

Esta Estação Comandante Ferraz tem custado um enorme esforço às nossas Forças Armadas, especialmente à Marinha e à Aeronáutica, e tem atraído apoio de diversos setores, entre os quais uma Frente Parlamentar de Apoio ao ProAntar, como é conhecido o programa.

De repente, ainda não sabemos por que, um incêndio com explosão, provavelmente no depósito de combustível, transforma nossos prédios e os dados das pesquisas em cinzas. Visitei duas vezes a Antártica, em uma delas foi possível ir até a estação. Muitos vibram com a seleção de futebol, eu vibrei ao posar com uma bandeira ao lado dos cientistas e militares naquele ponto extremo do planeta, sabendo que estava em território brasileiro e ao lado de pesquisadores brasileiros. Há anos, sou presidente da Frente Parlamentar ProAntar e talvez por isso tenha sido informado logo no início e certamente devo ser um dos que mais sentem o drama que estamos vivendo.

A morte de dois militares, além de um outro ferido, e a destruição das pesquisas, salvo aquelas já compartilhadas pela internet, deixaram-me com a sensação de uma imensa tragédia para o Brasil, embora em um ponto tão distante. Ao mesmo tempo, despertaram a vontade de fazer tudo o que é possível para ajudar na recuperação daquele nosso território científico.

A partir desta semana, a Marinha já começa a entender o que houve e a fazer os trâmites para reconstruir a Estação Comandante Ferraz. Estamos certos de que não serão poupados esforços de todos nós e do governo brasileiro para que, em breve, todo o trabalho de pesquisa possa ser retomado e o Brasil possa mostrar que já tem uma nova base construída.

O custo disso será quase nada se comparado com os custos com a Copa do Mundo, as Olimpíadas e o trem-bala. E, com certeza, trará muito mais resultados positivos para o orgulho nacional e para as pesquisas mundiais. Trata-se de refazer um orgulho brasileiro.

*Professor da UnB, senador (PDT-DF) e presidente da Frente Parlamentar ProAntar

FONTE: ZERO HORA (RS)

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