terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Rival de Chávez quer aliança com Brasil

Vencedor das primárias da oposição diz que é possível atrair investimentos e diminuir déficit comercial da Venezuela

Lourival Sant"Anna

CARACAS - Uma eventual derrota do presidente Hugo Chávez na eleição de outubro deve introduzir uma mudança de estilo nas relações entre Brasil e Venezuela, mas não um afastamento.

Definindo-se como um "seguidor do modelo brasileiro", o candidato único da oposição, Henrique Capriles Radonski, disse ontem que pretende atrair mais investimentos brasileiros na Venezuela, tornando mais vantajosas as relações bilaterais para seu país. Capriles venceu as primárias da oposição no domingo com 1,8 milhão de votos, 62% do total.

Em entrevista coletiva, respondendo a uma pergunta do Estado, o candidato lembrou a proximidade de Chávez com o PT brasileiro, e o apoio público de Lula ao presidente venezuelano na última eleição presidencial, em 2006. "Estou seguro de que teremos as melhores relações com o Brasil", disse Capriles.

"Hoje a balança comercial é favorável ao Brasil, mas, se tivermos um país aberto, com segurança para os investidores, quanto investimento brasileiro não poderá vir à Venezuela?", questionou Capriles, advogado especializado na área comercial. "Muito, até porque o Brasil está em condições de investir em outros países. Tenho conversado com muita gente do Brasil."

Após a vitória, Capriles criticou duramente a ajuda econômica com que Chávez brinda seus aliados. Disse não ter a intenção de ser "líder do mundo" e trabalharia para tornar mais vantajosas as relações da Venezuela com outros países. No ano passado, o Brasil exportou US$ 208 milhões para a Venezuela, e importou apenas US$ 68 milhões. Os principais produtos exportados pelo Brasil são carne bovina, frango, café e polietileno. O país vizinho vende derivados de petróleo e energia elétrica para os Estados da Região Norte.

"Se digo que sou um seguidor do modelo brasileiro, já de entrada estou falando bem", defendeu-se Capriles. "Estou seguro de que também posso ter uma boa relação com o ex-presidente Lula e com a presidente Dilma Rousseff. Vou visitar muito o Brasil. Além do mais, vamos muito com a cara dos brasileiros."

Atual governador de Miranda, onde se situa Caracas, Capriles disse que implementou no Estado o Programa Fome Zero, inspirado no plano brasileiro.

Acusado de ser "de direita" por chavistas, Capriles definiu-se como "progressista" e procurou diferenciar Chávez, que alterou a Constituição para se reeleger, de Lula. "O Brasil é democrático", disse. "Lula tinha cerca de 70% de popularidade quando chegou à presidência. Não mudou a Constituição para se reeleger."

Eleito em 1998, Chávez aprovou por referendo no ano seguinte uma nova Constituição, que previa mandatos de seis anos com uma reeleição. Promoveu em 2000 nova eleição presidencial e considerou que seu mandato começava do zero, sob a nova Carta. Reelegeu-se em 2006 e em 2009 aprovou por referendo nova reforma constitucional, tornando a reeleição ilimitada.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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