segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Serra foca na polarização com o PT e em alianças

Raphael Di Cunto

SÃO PAULO - Pré-candidato com o mais alto grau de rejeição na disputa pela prefeitura de São Paulo - 35% segundo o Instituto Datafolha - o ex-governador José Serra (PSDB) pretende enfrentá-la com foco em dois pilares: a polarização da disputa contra o PT, apostando no eleitorado de perfil conservador da capital paulista, e com o argumento de que sua eleição ao governo do Estado ampliou as parcerias com o município e possibilitou a que o vice que o sucedeu, Gilberto Kassab (PSD), pudesse concluir em melhores condições as realizações do mandato.

A investida contra a rejeição começou já neste fim de semana. Ontem o secretário da Cultura Andrea Matarazzo, o primeiro dos quatro pré-candidatos do PSDB a desistir da disputa, foi enfático: "Ele ficará provavelmente quatro anos ou talvez oito anos na prefeitura". No sábado, Kassab disse que o ex-governador desistiu do sonho de concorrer à Presidência da República para ser prefeito de São Paulo.

A tentativa de polarizar com o PT ficou clara ontem, no discurso de Matarazzo. "Nosso grupo não poderia se dividir. Precisamos nos unir por aquilo que é mais importante - derrotar o projeto do PT, que devastou a cidade de na sua administração", disse o tucano, sobre o governo da ex-prefeita e hoje senadora Marta Suplicy (2001 a 2004).

Matarazzo disse que saiu da disputa porque o ex-governador é a pessoa mais preparada para enfrentar a eleição. "Ele foi o melhor prefeito que esta cidade já teve", afirmou. Além de Matarazzo, o secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas, também já decidiu desistir da disputa em favor de Serra, mas deixou para anunciar a decisão hoje.

Os outros dois pré-candidatos do PSDB, o deputado federal Ricardo Tripoli e o secretário estadual de Energia, José Aníbal, conversaram ontem com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes e disseram não ver problemas de o ex-governador participar das prévias, mas rejeitaram a hipótese de adiar a data da votação. Há meses, os quatro pré-candidatos participam de eventos e debates como uma preparação para a disputa interna no partido para a escolha de quem irá liderar a campanha na cidade de São Paulo.

"Já mandei carta para meus apoiadores, mobilizei-os para o próximo fim de semana. Então sou contra remarcar as prévias", afirma Trípoli. "O Serra já está se anunciando como pré-candidato faz tempo, se mobilizando internamente, é totalmente desnecessário adiar a eleição", explicou ontem Tripoli.

Ganha força a ideia de uma chapa puro-sangue, que contemple setores do PSDB insatisfeitos com o fim das prévias, mas essa proposta colide com a necessidade de uma ampla aliança partidária que, além de garantir maior espaço no horário eleitoral gratuito, visa isolar o PT ao eleitorado de esquerda na capital que, historicamente, não tem ultrapassado um terço dos votos.

Para enfrentar a campanha petista, que deve bater na tecla do abandono do cargo de prefeito quando ele entrou na disputa para governador do Estado, Serra precisará ampliar o leque de alianças e, assim, conquistar o maior tempo possível do horário eleitoral gratuito. O PSD, do prefeito de São Paulo e aliado certo, Gilberto Kassab, ainda não tem garantido a cota partidária do horário eleitoral.

À época em que se aproximou da candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), Kassab contava com a pressão petista sobre o Tribunal Superior Eleitoral para um julgamento favorável da demanda por tempo de televisão e acesso ao fundo partidário. Com o apoio já declarado de Kassab a Serra na principal cidade do país, é provável que já não interesse mais ao PT apoiar a demanda do PSD.

Até agora, o único partido que o governador Alckmin havia conseguido atrair para a coligação tucana era o PP, do deputado federal Paulo Maluf. O DEM está dividido entre o apoio ao PSDB, ao PMDB ou à candidatura própria - esta última, hipótese menos provável, segundo integrantes da legenda.

Com a entrada de Serra na disputa, o partido pretende investir no PPS, que tem como pré-candidata a ex-vereadora e ex-apresentadora de televisão Soninha Francine, e no PDT, que lançou o deputado federal Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical - Paulinho já disse a aliados que poderia desistir para virar vice do ex-governador. PSB e PV são outros aliados em potencial e estão tanto na base de sustentação de Alckmin quanto de Kassab.

Antes de partir em busca de aliados, no entanto, Serra terá que pacificar seu próprio partido, ainda dividido em relação ao fim das prévias que haviam sido marcadas para 4 de março. Representantes do diretório municipal do partido começaram a ligar ontem para os presidentes dos diretórios zonais para saber se o debate de hoje à noite, na região central de São Paulo, está mantido, mesmo com apenas dois candidatos - Trípoli e Aníbal.

"Por enquanto, eles [presidentes zonais] estão divididos. Estamos avaliando se vale a pena fazer um debate com apenas duas pessoas, já que o Serra ainda não se inscreveu nas prévias e ele só pode participar do debate depois disso", afirmou ao Valor o tesoureiro do partido na capital, Fábio Lepique. O ex-governador não deve participar porque ainda não se inscreveu nas prévias - a expectativa é que ele entregue hoje uma carta para o diretório municipal pedindo a inscrição.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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