quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tucano ainda acalenta sonho da Presidência

Serra disse a aliados que está disposto a tentar novamente o Planalto; porém, só em 2018, caso ganhe a Prefeitura de SP

Julia Duailibi, Christiane Samarco

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Depois de decidir entrar na corrida pela Prefeitura de São Paulo, o ex-governador José Serra (PSDB) afirmou a aliados que ainda não enterrou o sonho de ser candidato a presidente da República. Disse, no entanto, que se vencer a disputa de outubro pretende cumprir os quatro anos do mandato de prefeito.

Para os aliados, a declaração é uma sinalização de que Serra não está fora da disputa nacional. Anteontem, em entrevista ao Estado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que a disposição de Serra a se candidatar a prefeito o revitalizava e que não o tirava da corrida presidencial, ao lado do senador mineiro Aécio Neves (PSDB).

Serra disse aos interlocutores que o eleitorado paulistano não perdoaria uma segunda renúncia do cargo de prefeito. Em 2006, o ex-governador deixou a Prefeitura para disputar o governo do Estado. Em 2010, também abandonou o Palácio dos Bandeirantes nove meses antes do término do mandato para disputar a eleição presidencial.

Os aliados dizem agora que, diante das declarações de que não renunciará, caso vença, o sonho de ser candidato a presidente deve ser postergado para 2018. "Em 2014, só em caso de uma catástrofe econômica e política, num cenário pouco provável hoje", afirmou um aliado. Em 2018, o governador Geraldo Alckmin também é um dos cotados para disputar a Presidência.

Cúpula. "A gente mal havia tirado um peso dos ombros, e vem FHC e coloca esse peso sobre a gente outra vez", lamentou o deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR), trazendo a público a queixa que a cúpula tucana só ousou fazer nos bastidores. Preocupado com o impacto das declarações de FHC sobre o eleitorado paulistano, que não quer um candidato que faça da Prefeitura trampolim para projetos políticos futuros, o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), procurou corrigir as palavras de FHC. "O que o presidente Fernando Henrique quis foi valorizar o perfil de prefeito que São Paulo terá. Ele com certeza não disse que Serra imagina, supõe ou prevê que não vá cumprir todos os dias de seu mandato."

A despeito do desconforto de seu grupo, que tanto festejara a declaração anterior em que FHC tratara o mineiro como o "candidato óbvio" do PSDB, Aécio não passou recibo. "Nenhum de nós, homens públicos, é dono do seu destino, por mais sinceras que sejam suas convicções", disse o senador, para quem não há "essa vinculação direta" entre 2012 e 2014. "Falta muito tempo e outros fatores irão influir", disse.

Para consolo dos descontentes, Aécio ponderou em conversas reservadas que não é vantagem ficar na vitrine sozinho, como candidato da oposição, por três anos. Na política, vale a regra de que tempo demais de exposição deixa o candidato "na chuva", a mercê das críticas de aliados e adversários.

Neste contexto, o senador destacou que a disputa paulistana é na verdade uma eleição nacional, e deu razão a Fernando Henrique de lembrar o nome de Serra, que volta ao protagonismo político com sua candidatura.

Em seguida, inclui FHC na "vasta lista" de presidenciáveis tucanos, ao lado de líderes e governadores do partido. "Com toda essa vitalidade que vem demonstrando, ele também é uma forte alternativa do PSDB."

O que mais irritou serristas e aecistas foi a declaração de que, ao tomar a decisão de se candidatar a prefeito, Serra volta à cena política "revitalizado" para qualquer projeto. Tentando demonstrar naturalidade diante da fartura de nomes, o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), disse que essas questões o partido resolve realizando prévia. "Candidate-se quem quiser. O processo de escolha será democrático."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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