sexta-feira, 2 de março de 2012

Bancada do PSB rebela-se contra governo

Caio Junqueira

BRASÍLIA - Glauber Braga (PSB-RJ): deputado de Friburgo ampliou de 7 para 60 os artigos da MP 547, que institui cadastro de municípios sujeitos a catástrofes naturais

Dos 26 deputados do PSB presentes no plenário para votação do Fundo de Previdência do Servidor, 17 (65,4%) votaram contra os interesses do governo federal. A sessão aconteceu horas depois de a presidente Dilma Rousseff liberar, para dois Estados governados pelo partido - Ceará e Pernambuco - com festa em palanque, R$ 2 bilhões para obras de ampliação do metrô de Fortaleza e outros R$ 2 bilhões em investimentos em mobilidade urbana de Recife.

Os deputados do PSB estão insatisfeitos com o governo e a maioria da bancada da Câmara diverge da cúpula com relação aos temas em votação. A situação começou a preocupar o presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que vai conversar com os principais integrantes da bancada, nos próximos dias, e tratará também da rebelião com o presidente do PSB-SP e secretário de Turismo, Márcio França (PSB), em encontro que terão na cidade, segunda-feira, para debater a aliança do PSB com o PT na capital.

Hoje estima-se que 20 dos 32 deputados do partido teriam uma posição mais crítica, independente e infiel ao governo federal, se pudessem escolher. Só que isso esbarra nos interesses dos seis governadores da sigla, que são oriundos de Estados com alta dependência de recursos federais (Amapá, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco e Piauí). Além disso, o PSB detém dois ministérios importantes para fazer política - Integração Nacional e Portos.

Na tarde em que o Funpresp foi aprovado, Eduardo Campos, o governador interino do Ceará, Domingos Filho, e o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração) interromperam suas atividades e foram cabalar votos para o governo. A insatisfação, porém, já existia mas não haviam notado.

Em setembro de 2011, quando a mãe de Campos, deputada Ana Arraes (PE), deixou a liderança da bancada para assumir vaga de ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), os deputados ficaram mais à vontade para afrontar a orientação do partido. Sua saída fez aflorar a disputa por espaço e poder.

Cinco deputados, os paulistas, aliados locais do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), começaram, nas reuniões internas, a atacar o governo. Foram seguidos pelos do Rio Grande do Sul que, apesar de participarem do governo Tarso Genro (PT), opõem-se à aliança ao PT. Não demorou para outras queixas surgirem, insufladas pela falta de liberação de verbas de emendas parlamentares e nomeações, além de privilégios concedidos ao PMDB pelo governo. Soma-se a isso uma disputa interna pela liderança formal dos deputados.

Após a saída de Ana Arraes, fez-se um acordo pelo qual outra mulher, Sandra Rosado (RN), assumiria interinamente o cargo até fevereiro. Enquanto isso, Eduardo Campos trabalhou para que o deputado Glauber Braga (RJ) a sucedesse, como estratégia de incentivar lideranças fora do Nordeste, onde o partido detém sua força. No mês passado, contudo, Rosado afirmou ter recebido manifestações para que continuasse no posto e quebrou o acordo. Glauber não quis entrar na disputa, outros deputados pleitearam a liderança e a confusão se instalou. A solução foi deixar a bancada com três líderes neste ano. A ideia de Campos de "desnordestizar" o PSB foi, portanto, completamente desrespeitada.

No dia da votação do Funpresp, a orientação da cúpula partidária era votar por sua aprovação. Agendou-se uma reunião para as 14h para definir qual emenda seria apresentada. O deputado Dr. Ubiali (SP), entretanto, declarou que antes de definir qual emenda seria necessário verificar se o voto seria "sim" ou "não". Defendeu o "não" e foi apoiado pelos oito deputados presentes. Em nova reunião, às 16h, os 17 deputados presentes, insuflados pelos deputados paulistas e gaúchos, aprovaram a mesma decisão. A tese defendida era de que havia chegado a hora de dar o troco ao governo pelo tratamento inadequado à bancada.

A líder Sandra Rosado apoiou a decisão e declarou voto contra no plenário. Foi então que os governistas entraram em ação. Fernando Filho (PE), filho do ministro Fernando Bezerra, e Júlio Delgado (MG), quarto-secretário da Câmara, expuseram que isso traria consequências ruins para o partido. Conseguiram virar alguns votos, apenas. Ao final, dois terços dos deputados do PSB rejeitaram o texto.

A consequência veio no dia seguinte. O governo queria aprovar a Medida Provisória 547, que institui um cadastro nacional de municípios com áreas propícias à ocorrência de escorregamentos de grande impacto, e cujo relator é o deputado Glauber. Na véspera, ele votou a favor do Funpresp. Natural de Friburgo (RJ), município mais atingido pelos temporais de janeiro de 2011, ele ampliou o número de artigos da MP de 7 para 50. Todos resultado de um relatório aprovado em uma comissão especial da Câmara que estudou medidas para enfrentar catástrofes climáticas.

Entretanto, o governo não aceitou suas sugestões. Queria aprovar a MP original e caminhava para orientar a base para derrubá-lo, sob a justificativa de que ele era muito complexo e de que não houve tempo de analisá-lo. Glauber, então, relatou que entregara o texto antes do Carnaval e que esperava uma reunião com o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), em que ao menos lhe fossem apontados os pontos discordantes, o que não aconteceu.

Após ouvir de Marco Maia que estava "abusando da paciência dos deputados", protestou e foi amplamente aplaudido. A oposição começou a apoiar o adiamento da votação e a base aliada a seguiu.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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