terça-feira, 20 de março de 2012

Declarações de Braga irritam cúpula do PMDB

Caciques do partido planejam reação à decisão da presidente de buscar novos aliados; Ideli diz não temer por votações

Gerson Camarotti, Maria Lima

BRASÍLIA. Diante do impasse com o PMDB, que começa a contaminar outros partidos aliados, o Palácio do Planalto decidiu suspender as conversas que seriam agendadas para as próximas semanas entre a presidente Dilma Rousseff e as bancadas governistas no Congresso. A cúpula do PMDB está em pé de guerra e tem se reunido com o vice-presidente Michel Temer, em busca de como administrar a decisão, anunciada pelo novo líder do governo no Senado ao GLOBO, Eduardo Braga (PMDB-AM). Ele disse que Dilma "vai enfrentar as velhas práticas políticas".

O que mais irritou os caciques do PMDB foram as declarações de Braga de que vai estender a interlocução do governo a desafetos do grupo de Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney(PMDB-AP), como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Ontem, Jarbas disse ter dúvidas se Dilma conseguirá dar passos concretos nesse enfrentamento:

- Não sei se Dilma quer isso. Ela tem o pé muito atrás. Se quer conversar com os independentes, precisa promover atos concretos. Até agora, ela tem tratado o Congresso com desdém. O fato de ter trocado (Romero) Jucá por Eduardo Braga, uma pessoa de nível acima da média do Senado, não deixa de ser positivo. Mas se sair de Jucá e continuar no mesmo círculo de Renan e Sarney, é trocar seis por meia dúzia - disse.

Sobre uma conversa com Dilma, Jarbas disse que, antes, precisa saber o rumo da prosa:

- Se for para votar com o governo, alinhado, não é bem assim. Sempre voto com o governo quando acho que merece .

Apesar da intervenção do ex-presidente Lula, que chamou Sarney e Braga a São Paulo, para mostrar sua preocupação com a radicalização da crise na base, Dilma está consciente do risco de suas ações. Nas palavras de um interlocutor de Dilma, foi intencional sua decisão de mudar uma relação que é chamada no Planalto de viciada e decadente.

- Ao esticar a corda, a presidente sabe que tem riscos. Mas ela está decidida a mudar essa correlação de forças - resumiu esse interlocutor.

De forma reservada, o que se diz no Planalto é que Sarney e Renan, embora reclamando das ações de Dilma, também têm uma dívida de gratidão com Lula e o PT - o ex-presidente blindou Sarney no escândalo dos atos secretos. Também evitou a cassação de Renan, quando foi divulgado que uma empreiteira pagava mesada para a jornalista Mônica Veloso, com quem ele teve uma filha.

Ontem, Dilma se encontrou com Temer. Foi um gesto para manter aberto o canal com a cúpula do PMDB. No domingo à noite, houve um encontro de caciques do PMDB na casa de Sarney. A reunião do mesmo grupo se repetiria ontem no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice.

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse ontem que trabalha com o tempo para reconstruir a relação com a base, sem pressa. Mas frisou que, na vida real, não há problemas de governabilidade. Até porque, disse, o governo não tem necessidades urgentes no Congresso; não há na pauta, por exemplo, nenhuma votação de emenda constitucional que exige quorum qualificado (três quintos).

Mas o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), teme pela votação da Lei Geral da Copa:

- Vou falar com a bancada que este é um compromisso dos governos Lula e Dilma. Vou tentar reverter essa resistência.

FONTE: O GLOBO

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