sexta-feira, 16 de março de 2012

Dilma decide não ceder a chantagens

O novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-PR), diz querer a retomada do diálogo com o PR, mas avisa que "não dá para conversar com imposição". A presidente determinou que nada seja votado até aliados pararem de fazer ameaças.

Diálogo, sim, chantagem, não

Dilma avisa que aceita negociar, mas sem imposições, e breca votações no Congresso

Gerson Camarotti, Maria Lima

Diante da forte reação da base aliada no Congresso às suas decisões dos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff avisou que não vai recuar nem ceder a pressões, ameaças e chantagens. Por meio do novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-PR), ela sinalizou com a retomada do diálogo com os governistas insatisfeitos, desde que não haja imposições. Para evitar risco de derrotas em matérias de interesse do governo, Dilma determinou que nada seja votado na Câmara e no Senado enquanto o clima estiver tenso e aliados fizerem ameaças.

Afinado com a presidente, o novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), endureceu o discurso com o líder do PR, senador Blairo Maggi (MT). Na véspera, Blairo anunciara que os sete senadores do PR estão na oposição porque a sigla não retomou o comando do Ministério dos Transportes. E condicionou a volta à base ao atendimento da reivindicação.

- Não dá para conversar com imposição. O líder do PR sabe que estamos tentando resolver isso, mas com esse clima que está sendo colocado eu não tenho mais autoridade para continuar com essas tratativas - disse Braga.

Entre parlamentares, aliados e da oposição, há perplexidade com as brigas que Dilma comprou: troca dos líderes, enfrentamento com grupos poderosos, como o do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), com o PR e até com setores do PT na Câmara.

Anteontem, após o anúncio do PR de que fará oposição no Senado, Braga se reuniu com Dilma. Ontem, explicou que foi feito um convite para que Blairo fosse ministro dos Transportes, que continua de pé:

- Fica uma situação muito esquisita. Houve um convite, e ele nunca foi retirado. Agora, do ponto de vista do governo, não tenho como prosseguir a negociação se o PR não revir sua posição (de ir para a oposição).

PR insiste para ter Transportes de novo

O líder do PR, por sua vez, disse que as informações estão truncadas. Segundo Blairo, o convite para que ele se tornasse ministro foi recusado há sete meses. Ele alegou que haveria conflito de interesses com suas atividades empresariais - e afirmou que, desde então, o PR nunca mais recebeu outra indicação do governo. Contou que, anteontem, foi chamado pela ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, mas para ser comunicado que o PR não teria mais o Ministério dos Transportes, apenas duas diretorias de estatais.

- Quando ela disse que não ficaria e ofereceu duas estatais, não quis saber de mais nada. Mas, como já disse, quando o governo achar que os sete votos do PR são importantes, nos procure. Eduardo Braga só precisa fazer um gesto, que aí podemos conversar.

Nas palavras de um interlocutor direto de Dilma, acabou a "zona de conforto" da base governista, e os aliados precisam perceber que o governo mudoue que essa mudança inaugurou um novo estilo de fazer política no Palácio do Planalto.

Apesar das queixas dos aliados pela substituição de Cândido Vaccarezza (PT-SP) por Arlindo Chinaglia (PT-SP), na liderança do governo na Câmara, o Palácio do Planalto é direto: Vaccarezza se transformara em porta-voz dele mesmo, e não do governo. O mesmo teria acontecido com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), substituído por Eduardo Braga na liderança do governo no Senado.

Dilma já tinha avisado no início do ano que trocaria os líderes, mas o fez esta semana, sem aviso prévio. Além de ter sido derrotada no Senado - no caso da rejeição do nome de Bernardo Figueiredo para permanecer na direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) -, Dilma se irritou profundamente com outra decisão de Jucá: ele ignorou sua determinação de aprovar, na semana de comemoração do Dia da Mulher, o projeto sobre equiparação de salário entre homens e mulheres que exercem a mesma função.

Como Braga, Chinaglia, que herdou os conflitos do Código Florestal e da Lei da Copa, também já está agindo, mas é realista:

- Não existe mágica, existe trabalho.

Também é grande o problema do outro lado da Praça dos Três Poderes, no Planalto: a falta de entrosamento e jogo político da dupla palaciana formada por Ideli e pela chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. A desastrada negociação da Lei Geral da Copa, classificada por aliados como "lambança", mostra a deficiência na articulação política.

Ideli, orientada por Dilma para não se deixar ser esmagada, retomou ontem contatos importantes: almoçou com o presidente da Câmara, Marco Maia; encontrou-se com Renan Calheiros; e falaria com Chinaglia.

Colaboraram: Cristiane Jungblut e Catarina Alencastro

FONTE: O GLOBO

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