terça-feira, 13 de março de 2012

Dilma sem economia:: Vinicius Torres Freire

O que sobra do governo da presidente além da sua meta de fazer o país crescer mais de 4% neste ano?

Com quantas palavras se faz um governo? Qual meia dúzia de palavras definiria o governo Dilma Rousseff até aqui? PIB, câmbio, juros, PAC, gestão, ministros enrolados, broncas, trem-bala, aborto?

Quais dessas palavras representam um projeto da presidente? Se riscarmos do caderninho o palavrório econômico, o que sobra?

A última pergunta é meio injusta, decerto. Governar é dar ao menos a aparência de que o governo faz algo pela renda do cidadão. Trata-se do senso comum político-eleitoral e de curto prazo.

Mas mesmo o mínimo denominador comum (MDC) dos governos do mundo moderno (exclui teocracias, ditaduras etc.) vai além do objetivo de "aumentar a renda" (crescimento econômico sem piora da distribuição). Melhor dizer que o MDC dos governos mais prestantes envolve a ideia de bem-estar material e de provimento de oportunidades mais igualitárias.

Nessa versão ampliada, mas ainda realisticamente medíocre do "bom governo", o que Dilma nos propõe? O "Brasil sem Miséria", o plano de auxiliar os miseráveis fora da rede do Bolsa Família, basicamente. O plano de mandar uns milhares de jovens estudar no exterior e o de fazer mais escolas técnicas, ambos ainda quase no papel apenas.

Não sabemos o que Dilma (seu governo) pensa do que as crianças devem aprender na escola, provavelmente um dos três assuntos mais importantes do país. Sim, educação básica é tarefa de Estados e municípios. Mas, se a presidente está fora do debate ou da coordenação de um assunto tão essencial, o que mais ela está fazendo? O trem-bala? "Gestão" (cobrar minudências cotidianas da construção da obra x ou y ou z)?

O que Dilma pensa da universidade? Sim, as universidades são autônomas, as paulistas em particular, para não dizer quase soberanas, o que é um problema -universidades públicas têm de prestar contas. Não sabemos se Dilma se importa com a sonolência esplêndida e burocrática do sistema universitário, se tem projeto para isso que é o centro das nossas ditas "sociedade do conhecimento".

Quanto à política politiqueira, parlamentar, Dilma é só uma aprendiz esforçada das caminhadas nesse pantanal. Se não se perder numa crise feia, já estará no lucro. Além do mais, é uma presidente que viu mais de meia dúzia de ministros cair de podre e tanto apodrecer no pé.

No mais, Dilma não propõe reforma administrativa ou política do Estado. Assiste de longe às querelas do Judiciário. Nem se animou a tocar nem um dedo na imensa teia plena de moscas-mortas que é a administração pública.

Barroca, balofa, inadministrável, com milhares de fundações, superintendências, estatais, feudos de rapina, ONGs grudadas como cracas, a coisa pública federal foge do controle até do terceiro escalão, que dirá do presidente. A máquina pública conspira tanto contra o governo quanto contra o cidadão e contra a economia privada.

O que Dilma propôs para faxinar e azeitar o SUS? Espera que todos tenham planos de saúde privado (vários tão fracos e lotados como o SUS, ou então carésimos)? Do tamanho e uso das Forças Armadas?

O espaço é curto para tantas mais perguntas. Mas parece que a imaginação no poder também o é.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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