quarta-feira, 7 de março de 2012

Economias doentes e recaídas:: Vinícius Torres Freire

2012 tem sido bem melhor para a economia mundial, mas vai haver tombos e sustos ao longo do ano

2012 é o quarto ano seguido a começar com acessos de euforia entre os donos do dinheiro grosso e de otimismo exagerado em relação à recuperação das economias nos países ricos. Sabe-se lá o que vai ser do resto do ano, mas ontem sobreveio um lembrete de como as festinhas nos mercados podem ser ilusórias, quando não traiçoeiras mesmo.

Os tombos nas Bolsas etc. de ontem podem ter sido apenas soluços, gente embolsando dinheiro feito na arrancada dos negócios especulativos ("de risco") neste início de ano.

Motivos banais para "explicar" a corridinha de ontem da manada não faltam, como sempre.

Houve um estranhamento entre gregos e credores. Houve o efeito retardado da notícia sobre uma redução do crescimento chinês (ou melhor, da "meta" do governo chinês). O motivo apresentado no dia não importa muito, quando não se trata simplesmente de besteira ou mentira apenas.

Mas a alegria entre os povos dos mercados parece exagerada ou pelo menos arriscada por motivos ditos "fundamentais".

Primeiro, apesar do sedativo de € 1 trilhão que o BCE (Banco Central Europeu) aplicou em seu mercado financeiro, a eurolândia vai viver uma recessão, talvez amena. Há bancos zumbis, que sobrevivem com os remédios do BCE. Há países zumbis, como Portugal, que podem se tornar uma encrenca grega em breve. Há o caso da Grécia, longe de terminar -embora remediada, a situação é crítica.

Em suma, assim que passar o grande alívio com o remédio do BCE, que evitou o colapso bancário, os povos dos mercados e seus porta-vozes vão se lembrar de quão complicada é a situação europeia.

Segundo, os Estados Unidos "despioraram", é fato. Mas é isso, apenas. Não resolveram seus problemas nem de curto prazo, ainda vão crescer pouco e sua economia está mais ou menos onde estava ao final de 2007. Não existe ainda um setor dinâmico que possa puxar uma onda nova de investimentos, os salários reais estão em queda.

Não é uma perspectiva brilhante, embora pareça um dia de sol, na comparação com o inverno europeu. Se não bastassem os problemas "estruturais", há o risco de uma disparada no preço do petróleo, cortesia de Irã e Israel. Se a insanidade provocar guerra, o petróleo dispara e a economia americana aderna.

Terceiro, há sinais de exageros evidentes em alguns mercados. Há exagero no preço dos títulos americanos, em algumas Bolsas, no preço do petróleo (mesmo descontado o efeito crise). É possível que os preços em vários outros mercados estejam exagerados, dada a situação ainda letárgica da economia mundial. Uma "correção" grande em Bolsas e outras praças de negócios pode mudar o humor de consumidores e até de empresas.

Quarto, o ritmo da atividade econômica mundial não parece tão animado quanto pareceu na virada de 2011 para 2012.

É inegável que a situação está bem melhor do que a verificada na maior parte do segundo semestre de 2011, quando havia medo (exagerado) de recessão nos EUA, baixa geral de crédito internacional, risco de colapso grego e ameaça de quebras bancárias na Europa.

Os problemas de fundo, porém, permanecem. Vai haver recaídas temporárias.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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