quinta-feira, 22 de março de 2012

Governo vive dia de derrotas no Congresso

"Rebeldes" da base de Dilma impedem votação da Lei Geral da Copa e ainda aprovam depoimento de Mantega na Câmara

Isabel Braga, Gerson Camarotti

BRASÍLIA. No dia em que o Palácio do Planalto chegou a anunciar que a crise com a base governista estava superada, os aliados na Câmara dos Deputados comandaram uma rebelião que provocou ontem pelos menos três derrotas à presidente Dilma Rousseff, mantendo paralisadas as votações em plenário. A principal delas foi obstruir a votação da Lei Geral da Copa.

Para surpresa do Planalto, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) foi convocada na Comissão do Trabalho. Também foi aprovado convite para o ministro Guido Mantega (Fazenda) falar na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Casa. E na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara foi aprovada emenda constitucional que tira do Executivo a prerrogativa de demarcar terras indígenas.

De manhã, ministro disse que crise acabara

Pela manhã, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), tomando por base a aprovação de uma consensual medida provisória no Senado, na véspera, afirmou:

- Isso (a crise) está superado. Está tudo ótimo. Está tudo bem.

No final do dia, a avaliação feita no núcleo palaciano era que a situação está difícil e que será preciso traçar nova estratégia com o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para romper o ciclo da rebeldia aliada.

Ontem, apesar da pressão do Planalto, a maiora dos 17 partidos da base obstruiu a votação da Lei da Copa. Só PT, PSB, PCdoB e PP defenderam a votação. No fim do dia, Chinaglia cobrou responsabilidade dos aliados:

- Foi assinado um contrato. Por isso, o Brasil tem que respeitar. Não se pode ameaçar a Copa do Mundo por conta da votação do Código Florestal. Não dá para fazer essa vinculação entre as duas votações. Vamos administrar este período, mas não há nenhuma tensão.

O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), justificou, sem convencer muito:

- Obstruímos para evitar que o governo fosse derrotado. Havia uma maioria silenciosa contra. Ou o governo seria derrotado ou tirariam o quorum. Evitei o vexame. Precisamos de tempo para construir um acordo e ter uma maioria barulhenta a favor. A base quer que o governo marque uma data para votar o Código Florestal antes de votar a Lei da Copa.

Em plena quarta-feira, quando normalmente as votações se estendem até tarde da noite, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), anunciou o fim da sessão às 17h30m e comunicou nova tentativa de votação na próxima semana. Mas a aposta é que votação só ocorra após a Semana Santa, em abril.

- Oposição e base aliada obstruíram a votação. Agora o governo precisa de um tempo, vamos dar um tempo para compor um acordo. Mas não é crise. Há uma discussão acerca do Código Florestal, é uma polêmica complicada - afirmou Maia.

No final da manhã, o governo foi surpreendido com a convocação de Miriam para falar sobre a suspensão de concursos públicos. Embora seja um assunto técnico, sempre há risco de desgaste político, neste caso com o funcionalismo.

"Nós estamos à base de pão e água", reclama deputado

No caso de Mantega, o convite para que ele fale sobre economia foi negociado, para evitar uma derrota. Mas a oposição quer mesmo é questioná-lo sobre os negócios sob suspeita do ex-presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci.

Pelos corredores, os insatisfeitos deputados da base aliada diziam que a paralisação das votações é uma forma de mostrar a Dilma que eles devem ser tratados com respeito.

Também ontem, PTB e PSC anunciaram que vão formar um bloco partidário, para juntar forças e não ficarem automaticamente alinhados com o Planalto. O governo terá que negociar caso a caso com as duas bancadas, que somam 38 deputados, as matérias de seu interesse. O primeiro passo do novo bloco foi obstruir a Lei da Copa.

- Existem os partidos da base aliada e os que estão à base. Nós estamos à base de pão e água - criticou o deputado e ex-líder do PSC Hugo Leal (RJ).

- Mudou o líder do governo, mas não a forma de trabalhar. Tem que conversar, reunir bancada por bancada. Não é só falar com líder - reclamou Danilo Fortes (PMDB-CE).

No Senado, o plenário aprovou medida provisória de abertura de crédito para o Pronatec. Hoje, em audiência que já estava marcada, será a vez de o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ser questionado na Comissão Mista de Orçamento. É praxe a ida do presidente do BC em início de ano para falar do comportamento da economia.

A oposição assistiu de camarote às agruras do governo.

- A desordem está grande na base governista. Assistimos com preocupação à paralisia do governo, que não consegue avançar em nenhuma área estratégica - disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).

Colaboraram Cristiane Jungblut e Catarina Alencastro

FONTE: O GLOBO

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