quinta-feira, 15 de março de 2012

Ideli articulou mudanças e convenceu presidente

Ministra, a quem parlamentares acusam de agir com truculência, tentava substituir Vaccarezza há meses

BRASÍLIA - A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) foi uma das idealizadoras da troca dos líderes do governo no Senado e na Câmara, de acordo com informações de bastidores do Palácio do Planalto. A solução, tida como um "desastre" pelos partidos aliados, foi apresentada à presidente Dilma Rousseff assim que o Senado rejeitou a recondução de Bernardo Figueiredo para a direção da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Há meses Ideli tentava substituir Cândido Vaccarezza (PT-SP) na liderança do governo na Câmara, segundo informações de partidos aliados. Ela desconfiava de que o líder queria seu lugar. Os dois praticamente não se falavam. Ideli deixou de frequentar as reuniões-almoço das terças-feiras, realizadas em sistema de rodízio nas casas dos líderes aliados. Na sexta-feira, a presidente Dilma foi convencida a trocar Vaccarezza pelo ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Desde junho na articulação política do governo, a ministra Ideli Salvatti apresentou-se aos partidos aliados com muita disposição para o diálogo. Prometeu liberar emendas parlamentares, nomear indicados políticos para cargos e devolver um ministério ao PR. Cumpriu pouco disso. Não por culpa dela, mas porque a presidente Dilma sentou-se em cima dos pedidos.

Comportamento mudou. De acordo com informação de dirigentes dos partidos aliados, nas últimas semanas começou a ser registrado um desgaste com Ideli, por conta de sua forma de agir, que mudou. Antes, ela ouvia todo mundo, anotava, dizia que levaria as reivindicações à presidente. Nos últimos dias, passou a enfrentar os parlamentares e agir de forma truculenta.

Um caso extremo é relatado pelos líderes. Ocorreu no dia 7, durante reunião na Câmara para tratar do Código Florestal. Quando o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) pediu a palavra, Ideli o cortou: "Não me venha falar de mudanças no projeto do código que saiu do Senado. O governo só aceita esse. E é esse que vamos votar e aprovar".

Diante dos argumentos de parlamentares que defendiam mudanças na proposta, Ideli ameaçou: "Quero ver alguém da base votar contra o projeto que veio do Senado". Os representantes dos ruralistas retiraram-se da reunião. Disseram que não falariam mais com a ministra e que não negociariam mais com o governo.

Por conta dessa reunião, o então líder Vaccarezza teve um súbito aumento de pressão e precisou ser medicado. Ele havia combinado com um programa de televisão que se deixaria filmar doando sangue, na manhã do dia seguinte. Ao aparecer no banco de sangue, estava à beira de enfartar. Em vez de doar sangue, foi atendido pelo médico. / J.D.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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