domingo, 4 de março de 2012

José Serra: De olho em São Paulo e no Brasil

José Serra decide concorrer ao cargo de prefeito paulistano sem abandonar o sonho de se tornar presidente

Mariana Sanches

Conhecido pela falta de pontualidade, José Serra parecia mudado. O ex-governador paulista chegou cinco minutos antes do programado à casa na Zona Sul de São Paulo onde anunciou, na quinta-feira, sua pré-candidatura à prefeitura da capital. Trajava calça bege, blazer azul e um sorriso amarelo. Num espaço decorado por um painel com sua foto e os dizeres "Serra Presidente do Brasil", remanescentes da disputa de 2010, ele passou uma hora explicando por que se lançava ao pleito municipal. "Sou candidato por necessidade e gosto", afirmou. Será a quarta campanha de José Serra para prefeito paulistano. Na única vez que venceu, em 2004, ficou apenas um ano e três meses no cargo.

Uma semana antes do Carnaval, ele evitava o assunto. "Serra escorraçava qualquer um que aventasse essa possibilidade", diz um aliado. "Ele estava totalmente voltado para o projeto nacional, uma nova candidatura a presidente." Embora Serra argumente que tem "prazer em administrar", a necessidade foi o fator definitivo para empurrá-lo à disputa. Sua resistência a oferecer seu nome como candidato levou o PSDB a um processo de prévias. Os quatro postulantes tucanos – Bruno Covas, Andrea Matarazzo, José Aníbal e Ricardo Trípoli – tinham pouca chance de ganhar e se mostraram incapazes de atrair partidos para formar uma coligação capaz de enfrentar o candidato apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT-SP). Além do distanciamento de antigos aliados, como DEM e PPS, os tucanos ficaram alarmados com o namoro com ares de noivado que o prefeito Gilberto Kassab (PSD), afilhado político de Serra, cultivou com Lula e o PT. Lideranças nacionais, estaduais e municipais do PSDB, capitaneadas pelo governador Geraldo Alckmin, empreenderam uma romaria ao escritório de Serra. "Se ele não se lançasse e o partido perdesse a disputa, ele seria responsabilizado pela derrota", diz um tucano graduado.

Diante dos apelos, Serra mergulhou em seus atormentados processos de decisão. Avesso a riscos, levantou números e dados e estudou a capital paulistana. "Uma amiga do Instituto Paula Souza me falou que dobramos o número de escolas técnicas em São Paulo, nas minhas gestões de prefeito e governador", disse Serra durante o anúncio. Seu processo de decisão incluiu uma viagem a Buenos Aires no Carnaval. Na capital argentina, ele tem parentes e, segundo ex-assessores, faz sessões de psicanálise. Em outros momentos, como antes de assumir o Ministério da Saúde ou de lançar-se candidato à Presidência em 2002, o pisciano Serra consultou astrólogos para clarear seu rumo político. "Os políticos recorrem a isso. Serra não é exceção. Quando era deputado federal, ele chegou a viajar para Nova Délhi para consultar-se com um bruxo armênio", diz um ex-assessor.

A pré-candidatura de Serra nacionaliza a disputa. Sua entrada já desfez a cuidadosa articulação de Lula pelo apoio de Kassab. Como queriam setores do PT, inclusive a senadora Marta Suplicy, Haddad assume o papel de oposição. Como situação, Serra terá de defender o controverso legado de Kassab, prefeito há seis anos. Segundo uma recente pesquisa Datafolha, 22% dos paulistanos consideram a gestão Kassab ótima ou boa, enquanto 37% qualificam-na como ruim ou péssima. "São Paulo não tem prefeito", afirma José Aníbal (PSDB-SP). Ele ainda disputa com Serra a indicação para ser o candidato do partido. O clima dos debates que antecedem a prévia tucana (marcada para o próximo dia 25) mostra que, mais uma vez, o PSDB está dividido. Antes de combater os adversários, Serra terá de unir seus aliados.

Superados os problemas internos, restará a ele encarar uma corrida menos favorável do que aquela em que derrotou Marta Suplicy, em 2004. Com uma taxa de rejeição em torno de 30%, Serra terá de convencer a população paulistana de que não abandonará o posto para postular a Presidência em 2014. Desde 1995, Serra não cumpre integralmente os mandatos para os quais é eleito. Em 2006, deixou a prefeitura paulistana para se tornar governador do Estado. "Até 2016 não serei candidato a nada", afirma Serra, às vésperas de completar 70 anos. "O sonho da Presidência está adormecido." Se vencer em São Paulo, ele manterá esse sonho vivo, ainda que dormente. Se perder, será acordado aos sobressaltos.

FONTE: REVISTA ÉPOCA

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