domingo, 11 de março de 2012

Kassab adia 'projeto petista' para 2014

No horizonte político do prefeito de SP, aliança em torno da candidatura do tucano José Serra não exclui aproximação com gestão Dilma

Julia Duailibi

A aliança do prefeito paulistano Gilberto Kassab (PSD) com o ex-governador José Serra (PSDB) na corrida pela Prefeitura postergou, mas não enterrou a dobradinha PT-PSD no principal reduto da oposição. Enquanto a união tucano-kassabista ganhou uma sobrevida, o prefeito mantém no radar a aproximação com o governo federal, tendo a reeleição da presidente Dilma Rousseff e a eventual candidatura ao Palácio dos Bandeirantes em 2014 como pano de fundo.

O ritmo da aproximação de Kassab com o PT tem relação direta com o resultado das urnas na eleição de 2012 em São Paulo. Se Serra sair vitorioso, a manutenção da aliança com os tucanos em 2014 dependerá "da forma como o PSD for tratado por Alckmin", diz um fundador do partido em referência ao governador tucano Geraldo Alckmin.

Mas, se houver a derrota do PSDB na eleição, o alinhamento ao PT no Estado "se dará no dia seguinte". Com um discurso de que o PSD é um partido de "centro", o que justificaria o movimento em direção a petistas e tucanos, Kassab descarta hoje a aliança compulsória com o PSDB: "Nós não somos o DEM."

O projeto político de Kassab, dizem seus aliados, passa pela reeleição de Dilma, quando o prefeito também pretende se candidatar a governador. Há dez dias, veio a público declaração dele ao presidente do PT, Rui Falcão, segundo a qual Serra preferiria a reeleição de Dilma à vitória do senador Aécio Neves (MG), pré-candidato do PSDB à Presidência e adversário do ex-governador. O mineiro tem o DEM, partido desafeto de Kassab, como aliado em seu projeto eleitoral.

O cenário alternativo, menos provável hoje, seria jogar o projeto de candidatura a governador para 2018, em nome da manutenção da aliança com o PSDB. Kassab seria indicado a vice-governador na reeleição de Alckmin em 2014. Essa hipótese, no entanto, encontra a resistência do governador, que não o quer na vice.

A disputa de 2014 será uma prévia do "projeto nacional" do PSD, afirma um cacique do partido sobre 2018, quando um dos principais aliados de Kassab, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), pode se candidatar a presidente. Com 47 deputados, o PSD se coloca como uma força de estabilidade do governo federal no Congresso, em parceria com o PSB. Concorre com o espaço que hoje é ocupado pelo PMDB. O governo registrou o "esforço" do PSD, que neste ano votou matérias de interesse do Palácio do Planalto, como a aprovação do Funpresp há 15 dias, num momento de rebelião na base aliada. Kassab é cotado para ter um ministério em 2013.

Se na capital PT e PSD estão em campos opostos, a dobradinha se mantém viva em cidades estratégicas da Região Metropolitana de São Paulo.

Sobrevida. A aliança do PSD com o PSDB na eleição pela maior cidade do País estava por um fio, mas ganhou sobrevida com a entrada de Serra na disputa. Alckmin não aceitou acordo proposto pelo prefeito, segundo o qual o candidato à Prefeitura seria do PSD, com o apoio dos tucanos. Em troca, em 2014 seria a vez de o PSD apoiar a reeleição de Alckmin, tendo Kassab como vice. Mas o governador vê Kassab como potencial adversário na liderança política no Estado, graças ao projeto político do prefeito, aliado a uma desconfiança que vem de 2008, quando os dois foram adversários na eleição municipal, e Kassab recebeu o apoio do grupo de Serra no PSDB.

Quando o acordo foi proposto no final do ano passado, Alckmin disse a Kassab que o PSDB teria candidato próprio em São Paulo e que o nome seria escolhido por meio de prévias.

Mas o prefeito buscou uma saída. Foi atrás do PT, num movimento que tinha o ex-presidente Lula como principal avalista. "Tentaram nos emparedar, mas aí a gente pulou o muro", conta o fundador do PSD. Alckmin correu, então, para pressionar Serra a entrar na eleição e evitar o fortalecimento do polo petista.

Kassab culpou o grupo da senadora Marta Suplicy como principal motivo para naufrágio do acordo com o PT em São Paulo. Mas também disse a petistas que seus eleitores não teriam aceitado uma traição a Serra. Mais uma vez deixou a porta aberta. Avisou que voltará a procurar o PT. Assim que a eleição terminar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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