sábado, 31 de março de 2012

Lula quer ajudar Dilma a mudar pastas

Ex-presidente disse que vai auxiliar sucessora a negociar, com aliados, dança das cadeiras no ministério para evitar danos a Haddad em SP

Vera Rosa, Julia Duailibi

BRASÍLIA, SÃO PAULO - De volta à cena política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confidenciou a amigos estar disposto a ajudar a presidente Dilma Rousseff "no que ela precisar" para terminar a reforma ministerial e impedir o apoio de partidos aliados, como o PR e o PDT, ao candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra. "Eu não vou ficar de pijama", disse Lula.

O ex-presidente estará em Brasília em 25 de abril, para ver a estreia do documentário Pela Primeira Vez, de Ricardo Stuckert, sobre a posse de Dilma. O PT já prepara um ato político para que Lula possa fazer um agradecimento público aos que torceram por sua saúde. Ele ficou cinco meses em tratamento contra um câncer na laringe.

"Disseram que a Dilma precisava de mim para tudo, mas passei cinco meses fora e as coisas aconteceram", afirmou Lula, segundo o senador Walter Pinheiro (PT-BA). "Agora estou renascido e quero voltar a contribuir com o governo."

Em visita ao Campo Limpo, zona sul de São Paulo, Haddad disse que não é a hora de Lula ou de a senadora Marta Suplicy entrarem na campanha e minimizou as críticas da ex-prefeita à pressão do PT. "Espero que não (que Lula não entre agora na campanha). O presidente Lula está se recuperando. Você quer colocá-lo 12 horas do meu lado na periferia de São Paulo? Discordo. Ele está num momento de recuperação", afirmou.

Preocupado com a candidatura de Fernando Haddad, Lula deve aparecer ao lado do afilhado em 14 de abril, na inauguração de um Centro Educacional Unificado (CEU), em São Bernardo do Campo. Marta, ausente da campanha até agora, fará ali sua estreia ao lado do candidato.

A iniciativa de dar um empurrão em Haddad, reunindo no palanque Lula e Marta, partiu do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT). O CEU será batizado com o nome da mãe da ex-primeira-dama Marisa Letícia. "Antes eu quero tirar uns dias de férias, descansar e pescar", disse Lula ao senador Jorge Viana (PT-AC), na quinta-feira. "Mas acho que ele está mais disposto a pescar uns votinhos. De voto ele é bom, mas de pescador só tem as histórias", brincou Viana.

Dirigentes do PT já avisaram Lula que a demora de Dilma em concluir a reforma ministerial está contaminando a campanha de Haddad. O pré-candidato ainda não fechou aliança com nenhum partido da base do governo.

Marta. O desabafo feito por Marta contra as cobranças para declarar apoio a Haddad exibiu não só as divergências no PT como acendeu o sinal amarelo no comando da campanha. Na quarta-feira, contrariada com as pressões do partido, a senadora disse ao Estado que "Haddad tem que gastar sola de sapato". "Além disso, as alianças farão diferença. O restante é conhecer os problemas da cidade e conquistar a militância. Ninguém pode substituir nem fazer isso pelo candidato."

"Ela vai gastar sola e vai dividir o custo do sapato com Haddad", ironizou o deputado Edinho Silva, presidente do PT paulista.

"Marta expressa um sentimento de quem fala com o coração e diz o que pensa na lata. Só que a preocupação não deve ser com a Marta, e sim com a política de alianças para sustentar a candidatura Haddad", disse o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto.

"Estamos em pré-campanha, estamos num momento de elaboração de propostas, de plano de governo", declarou Haddad. "O mesmo raciocínio que vale para ele (Lula) vale para a prefeita Marta. Não tenho sequer notícia de que tenha havido qualquer pressão", afirmou. "(Marta) É uma companheira de grande valor." / Colaborou Daiene Cardoso

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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