domingo, 25 de março de 2012

Os efeitos da crise nas bases eleitorais

Enfrentamento entre o Planalto e caciques políticos vai além dos atrasos nas votações na Câmara e no Senado: muda a relação de força com aliados nos estados e municípios

Paulo de Tarso Lyra

A presidente Dilma Rousseff tem travado, nas últimas semanas, embates com alguns grandes caciques políticos nacionais, que se agravaram após a derrota imposta ao Planalto na recondução de Bernardo Figueiredo para a presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e nas trocas das lideranças governistas no Congresso. Mas esses mesmos personagens não se incomodam apenas com a perda de prestígio na máquina pública federal. O novo reordenamento político pretendido pela presidente também afeta as relações nos estados e municípios, onde eles mantêm seus redutos eleitorais.

Líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) está na berlinda após a decisão de Dilma de substituir o peemedebista Romero Jucá (PMDB-RR) da liderança do governo na Casa. A presidente escolheu para o posto o também peemedebista Eduardo Braga (AM), um dos porta-vozes do grupo dissidente da legenda. Pessoas próximas a ele também enxergam nesse movimento um alerta para os planos do alagoano de ser presidente da Casa no próximo ano. "Sarney já dá sinais de que poderá não apoiar Renan. Ele gosta muita do líder do PMDB, mas gosta mais de manter o poder no Congresso", afirmou um integrante da base governista que não simpatiza com nenhum dos dois peemedebistas.

Renan tem um reduto em Alagoas considerável. Dos 102 municípios do estado, 100 são comandados por prefeitos aliados, inclusive de partidos de oposição ao governo federal. Mesmo assim, nas eleições para o Senado em 2010, ele acabou superado por Benedito de Lira (PP). "Não podemos esquecer que Renan sofreu um impacto com o escândalo Mônica Veloso", disse um aliado, comprovando que as questões nacionais refletem nos estados de origem dos políticos.

Outro caso emblemático é o do senador Blairo Maggi (PR-MT). "Nós temos mais ou menos 40 prefeitos eleitos pelo PR em Mato Grosso. Mas quando eu concorri ao Senado, tive ao meu lado os prefeitos dos 141 municípios", disse ele, ao Correio. Blairo, que antes de assumir uma cadeira no Senado foi eleito duas vezes governador, teve o ex-secretário de Governo e afilhado político, Luiz Antônio Pagot como presidente do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit).

Quando Dilma fez a limpa no Ministério dos Transportes e demitiu Pagot do Dnit, começaram os enfrentamentos de Blairo com o Planalto. Dilma chegou a convidá-lo para ser ministro e ele recusou, alegando compromissos empresariais. Hoje, assina pedidos de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) para fustigar o governo a encontrar um novo espaço para o PR. "Dilma queria manter o PR nos Transportes, ofereceu a pasta para o Blairo e ele não quis. Já são nove meses nessa enrolação, o que esperam de nós?" questionou o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA).

Nomeações

Quem também anda cabisbaixo é o senador Alfredo Nascimento (PR-AM). Ele até conseguiu uma vitória política no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que rejeitou, por unanimidade, o pedido de cassação do diploma do senador amazonense. Mas ele viu a ascensão de Eduardo Braga à liderança do governo na Casa, um desafeto regional que ainda tripudiou sobre o partido presidido por Nascimento em uma de suas primeiras entrevistas no novo cargo. "Só voltaremos a conversar com o PR se eles pararem de radicalizar", disse Braga.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), é outro que constantemente entra em crise com o Planalto. A mais recente foi a negociação sobre o Código Florestal, matéria que já causara atrito com Dilma no ano passado. Agora, ela reclama que o peemedebista participou das negociações no Senado e diz não se lembrar do acordo depois que a matéria chegou à Câmara. Alves tem 40 prefeitos aliados no Rio Grande do Norte. Filiou recentemente mais 10 e planeja chegar, em outubro, a 70 prefeituras sob o comando do PMDB. Mas começa a desconfiar que o sonho de presidir a Câmara no biênio 2013-2014 não vai se concretizar.

O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), afirma que, para os prefeitos e eleitores, não adianta tanto poder nacional se isso não se materializar em benesses locais. "Eu posso dizer que já apresentei mais de 100 projetos e que tenho 20 proposições tramitando na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Se eu não conseguir emendas para os postos de saúde, para a quadra de esportes e para a ponte, ninguém vai querer saber de mim", resumiu Portela.

Um analista reconhece que Dilma está impondo um ritmo diferente nessas relações. Além da demora na nomeação de cargos e na liberação de emendas parlamentares, a presidente não costuma levar os parlamentares da base aliada nas comitivas oficiais que visitam os municípios. Dessa maneira, não existem as fotos com ministros e a própria presidente. "Sem isso, como mostrar prestígio perante a base eleitoral?" declarou um especialista em marketing político.

Dilma queria manter o PR nos Transportes, ofereceu a pasta para o Blairo e ele não quis. Já são nove meses nessa enrolação, o que esperam de nós?" Walter Pinheiro (BA), líder do PT no Senado

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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