quarta-feira, 14 de março de 2012

PDT resiste à indicação de Brizola Neto

Ameaça de rebelião também de servidores do Trabalho suspende negociação do nome do deputado para o ministério

Gerson Camarotti, Evandro Éboli

BRASÍLIA. Uma forte reação da bancada do PDT na Câmara e uma ameaça de debandada na cúpula do Ministério do Trabalho suspendeu ontem as negociações do nome do deputado Brizola Neto (PDT-RJ) para assumir a pasta na cota do partido de Carlos Lupi. O Palácio do Planalto foi informado que havia resistências e até vetos ao nome de Brizola Neto entre os pedetistas. Para tentar contornar o impasse, integrantes da cúpula do PDT fecharam um acordo no início da noite de que não haveria mais vetos internos. Com o impasse, a negociação volta à estaca zero, o nome do deputado Vieira da Cunha (RS) volta para o tabuleiro e não há previsão de anúncio hoje como se previa.

A possibilidade de Brizola Neto se tornar ministro também causou uma espécie de rebelião no Ministério do Trabalho e com a ameaça de debandada de pelo menos seis técnicos que ocupam cargos estratégicos na pasta, como secretarias e diretorias. O próprio ministro, Paulo Roberto dos Santos Pinto, está resistente a continuar na pasta, como secretário-executivo, caso Brizola Neto seja o escolhido.

A presidente Dilma Rousseff deseja que Paulo volte à secretaria executiva, cargo que ocupava quando o ministro era Carlos Lupi. Essa alta resistência a Brizola Neto se dá por conta de sua interferência no ministério quando Lupi era o titular da pasta. O deputado pedetista indicou nomes de pessoas próximas para ocupar cargos no programa Projovem. Convênios realizados nessa área estão sendo investigados pela Polícia Federal (PF), pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Em novembro do ano passado, uma reunião na PF envolvendo servidores desses órgãos apontaram irregularidades, como a existência de documento oficial de um diretor indicado por Brizola determinando a um prefeito que contratasse uma organização não governamental para tocar determinado convênio. Essas informações foram repassadas ontem ao Planalto.

Segundo auxiliares próximos, o nome do deputado Brizola Neto ainda tem forte simpatia da presidente Dilma Rousseff. Mas ele só será nomeado se conseguir viabilizar o apoio do partido. O Palácio do Planalto considerou extremamente importante o fato de Brizola ter conseguido apoio das centrais sindicais, principal base de apoio para um ministro do Trabalho. Mas nas palavras de um interlocutor de Dilma, ele não pode ser ministro sem o respaldo do PDT.

Diante da rejeição da bancada, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, avisou aos líderes do PDT, deputado André Figueiredo (PDT-CE) e senador Acir Gurgacz (PDT-RO), que não havia decisão da presidente Dilma em favor de Brizola Neto. Ela foi além: deixou claro que seria "um tiro no pé" tentar nomear ministro por meio de jornais. Na conversa, André Figueiredo disse que dois nomes tinham o respaldo da bancada: Vieira da Cunha e o secretário-geral, Manoel Dias. A ministra acrescentou aos pedetistas que queria uma solução antes de viajar ao exterior no final do mês.

- Não há definição do nome do deputado Brizola Neto para o Ministério do Trabalho. O partido foi pego de surpresa com a notícia - disse o líder André Figueiredo.

Nos bastidores, a reação do ex-ministro e presidente do PDT, Carlos Lupi, também contribuiu para segurar a nomeação de Brizola Neto. Apesar das negativas oficiais, Lupi avisou internamente que não reconheceria o deputado como uma indicação partidária. Por causa disso, a palavra de ordem no Planalto passou a ser cautela. Com o racha interno, houve uma reunião da bancada do PDT para tentar encontrar uma saída.

O deputado Paulinho da Força (PDT-SP) apresentou a proposta para que não houvesse veto a nenhum nome do PDT. Até então, o próprio Paulinho mantinha o veto ao nome do deputado gaúcho Vieira da Cunha.

- As coisas estavam bem encaminhadas pela nomeação de Brizola Neto. Mas houve reação. Fizemos então acordo para que não haja veto ao nome escolhido pela presidente Dilma. Vou propor à bancada que apresente documento liberando a presidente para fazer a escolha. Essa é a melhor solução - disse Paulinho.

FONTE: O GLOBO

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