quarta-feira, 14 de março de 2012

PMDB do Senado desafia Dilma, e rebelião se alastra

Na crise a aberta entre o Planalto e os aliados, o PMDB do Senado, comandado pelo líder Renan Calheiros, desafiou a presidente Dilma e escolheu como relator do Orçamento o nome que a presidente Dilma Rousseff afastou da liderança do governo na Casa: Romero Jucá, também líder de Fernando Henrique e Lula. Renan disse que o PMDB não foi o único responsável pela recusa, no Senado, da recondução de Bernardo Figueiredo para a ANTT. Na Câmara, Dilma trocou Cândido Vaccarezza por Arlindo Chinaglia

PMDB dá o troco em Dilma

Partido indica Jucá, destituído da liderança do governo, para ser relator do Orçamento

Cristiane Jungblut, Chico de Gois e Catarina Alencastro

Surpreendido com a decisão da presidente Dilma Rousseff de esvaziar seu poder no Congresso, o grupo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), reagiu rapidamente à substituição do senador Romero Jucá (PMDB-RR) pelo senador Eduardo Braga (PMDB-AM) na liderança do governo no Congresso. O troco atingiu um ponto nevrálgico para o Planalto. Logo de manhã, Renan anunciou que o PMDB indicará Jucá para ser o relator do Orçamento Geral da União de 2013, na Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Mas, sem demonstrar publicamente que acusaram o golpe, os senadores do grupo de Renan, além de Jucá, participaram ontem da sessão do Congresso na qual a presidente Dilma foi homenageada. O cargo de relator do Orçamento, no sistema de rodízio entre PT e PMDB na CMO, pertence agora ao partido de Jucá, pois a presidência da comissão ficou com o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Além disso, o grupo mantém a articulação para fazer o sucessor de Sarney na presidência do Senado. O nome mais forte é o de Renan, agora ameaçado com os holofotes e eventual apoio do Planalto ao novo líder, Eduardo Braga (PMDB-AM), seu desafeto no partido.

- O Romero (Jucá) é um quadro muito experiente. Ele está saindo (da liderança) muito bem, tanto que o estamos indicando para a relatoria da Comissão de Orçamento. E a presidente disse que vai conversar mais com as bancadas - disse Renan ao anunciar a indicação de Jucá para a relatoria da CMO.

O cargo de relator do Orçamento é essencial nas negociação sobre execução orçamentária. Jucá tem experiência nessa comissão: em 2004, foi relator do Orçamento da União de 2005 e, em 2009, foi relator de Receitas do Orçamento da União de 2010, já que a peça orçamentária é sempre discutida no ano anterior. Na discussão do Orçamento de 2012, por exemplo, afinado com o Planalto, o relator Arlindo Chinaglia (PT-SP) rejeitou todos os pedidos de aumento de servidores e do Poder Judiciário. Agradecida, Dilma o nomeou ontem novo líder do governo na Câmara dos Deputados.

Após o anúncio, Jucá vestiu a camisa de relator. E prometeu passar o cargo de líder com muita tranquilidade para Braga:

- Não errei, mas a presidente entendeu que era preciso fazer um rodízio de líderes. Não saio magoado nem brigado com o governo. Vou contribuir na nova função de relator do Orçamento - disse Jucá.

Além de indicar Jucá para ser relator, a cúpula do PMDB iniciou um movimento de aproximação com Braga. Ele é um dos líderes do chamado G-8, grupo insatisfeito com o domínio de Renan e Sarney no PMDB. A aproximação começou na própria noite de segunda-feira. O vice-presidente Michel Temer - que também foi apenas comunicado por Dilma de suas intenções - organizou um jantar no Palácio Jaburu, com a presença de Renan, Jucá e Braga.

Segundo um dos participantes, o discurso foi o de que o novo líder precisa representar todo o partido e "não apenas uma facção do PMDB". O encontro foi para garantir uma "transição sem traumas" de Jucá para Braga. O líder do PTB no Senado, Gim Argello (DF), também esteve no encontro.

Bem-humorado, Jucá disse que, depois de dez anos como líder do governo, acordará "mais leve". Mas com uma ponta de crítica, afirmou que o governo precisa fazer mais política. Para ele, a derrota da recondução de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que tanto aborreceu Dilma, foi algo isolado.

- Daqui para frente, vou andar com a carga mais leve. Há dez anos, acordo preocupado com quem vai ser convocado - disse ele, acrescentando que iria à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) "ajudar" na sabatina do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Ontem, o novo líder adotou o discurso da unidade:

- A minha intenção é buscar a unidade dentro do PMDB e que a interlocução seja cada vez mais forte e amplida dentro do PMDB e com o governo - disse Braga.

Diplomático, Renan minimizou a troca na liderança do governo na Casa, afirmando que seu papel agora é "harmonizar" o partido. Segundo ele, Dilma se comprometeu a conversar mais com os senadores. Os peemedebistas reclamam que não são atendidos pelo governo e não participam das discussões sobre políticas. Para Renan, a reclamação não é exclusiva de membros de seu partido, mas atinge outras legendas também. E acrescentou que, na derrota da semana passada, não houve apenas votos do PMDB.

O líder afirmou que não é candidato a presidente do Senado, na eleição do ano que vem. Uma das possibilidades é o senador licenciado Edison Lobão (PMDB-MA) deixar o Ministério de Minas e Energia e voltar ao Senado para disputar o cargo. Mas alguns governistas reclamam que "Lobão não pode querer tudo".

- O PMDB tem vários nomes com condições de ser presidente. Inclusive o Lobão. Meu papel, como líder, é trabalhar para que o PMDB eleja o presidente - disse Renan.

- Nunca pensei nisso. Estou desempenhando um papel no governo, no Ministério de Minas e Energia - apressou-se em dizer Lobão.

A interlocutores, Dilma disse que não aceitará mais pressões de partidos da base e que os insatisfeitos precisam entender que a correlação de forças mudou. A presidente, segundo esses interlocutores, considera injustificável ter problemas a cada votação, num cenário em que DEM e PSDB diminuem a cada eleição.

FONTE: O GLOBO

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