sábado, 17 de março de 2012

Por trás dos números:: Regina Alvares

O desempenho da indústria foi muito ruim em 2011 e continua assim. A queda de 2,1% na produção em janeiro acendeu um enorme sinal de alerta no governo e a crise passou para o topo da enorme lista de preocupações da presidente Dilma Rousseff. Medidas estão sendo tomadas para atenuar os efeitos do câmbio e proteger o setor industrial, mas são ações emergenciais, paliativas, que não atacam os problemas estruturais.

O governo tem concentrado suas ações nos setores mais afetados pela valorização do real frente ao dólar e pela concorrência com os produtos asiáticos. Esses setores tiveram os piores desempenhos entre os segmentos da indústria, que, na média, cresceu só 0,2%. Têxteis recuou 14,9% e calçados e artigos de couro, 10,4%.

O economista Júlio Gomes de Almeida, do Iedi, propõe um novo olhar sobre o desempenho da indústria, que não substitui a visão do governo, mas contribui para a busca de soluções permanentes. Na lista de segmentos industriais, destaca três que se saíram bem em 2011, mesmo enfrentando os percalços do câmbio e da crise global. O exercício serve para mostrar o que está dando certo e poderia ser disseminado por meio de políticas públicas ou ações do setor privado.

O segmento de equipamento de instrumentação médico- hospitalar e ópticos é o melhor colocado nesse ranking. Cresceu 11,4% em 2011, incentivado pelo aumento da demanda interna, combinado com o fato de ser dinâmico tecnologicamente.

- A lição desse segmento é que vale a pena investir em setores de alta tecnologia, especialmente onde a demanda é crescente - explica.

O setor de outros equipamentos de transportes cresceu 7,9%, puxado pelos aviões da Embraer. O diferencial é uma primorosa cadeia produtiva. A lição, destaca Almeida, é trabalhar para que as cadeias produtivas sejam mais eficientes, adotando políticas com esse foco.

O terceiro segmento que se destacou em 2011, com crescimento de 3,2%, é o de minerais não metálicos, puxado pelo aquecimento no setor imobiliário e o programa Minha Casa, Minha Vida. A lição é que vale a pena investir em habitação e incentivar a construção. Esse novo olhar, voltado para os setores que se saíram bem na crise, pretende apontar caminhos para a recuperação da indústria ainda pouco explorados.

Se o governo incluir outros vetores na política já em curso, com foco na produtividade da indústria e incentivos aos setores com potencial elevado de crescimento, ainda vai levar um tempo, mas a indústria acabará dando a volta por cima e de forma sustentada, sem a tensão da competitividade deficiente, destaca o economista do Iedi.

FONTE: O GLOBO

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