sexta-feira, 9 de março de 2012

A profecia: a nova bolha:: Vinicius Torres Freire

"Analistas" da banca global escarnecem das políticas anticrise no mundo rico e reanunciam fim dos tempos

É comum ler economistas de bancos espinafrar bancos, bancos centrais e observar como a política econômica é sequestrada pelos patrões deles -isso é comum no exterior, explique-se. Ao vivo, em conversa informal, alguns desses tipos mais divertidos e/ou inteligentes são ainda mais descarados na ironia ou no sarcasmo amargos, em especial depois do desastre de 2008.

Um desses tipos mais "pop" (na imprensa e TV financeiras) é Bob Janjuah, pessimista crônico ("bear"), analista ("chefe de alocação tática de ativos") do Nomura, bancão e corretora etc. do Japão.

Vale citar um relatório de Janjuah, de fim de fevereiro, a respeito do presente desarranjo financeiro mundial, uma opinião, aliás, nada rara entre seus colegas.

Grécia e eurozona: "As políticas parecem centradas na proteção e na preservação de interesses particulares, com pouca consideração pelas terríveis condições em que o povo da Grécia e outros "periféricos" são forçados a viver. No entanto, os líderes europeus estão para colocar [e colocaram] ainda mais dinheiro no buraco sem fundo que é a Grécia, principalmente a fim de ajudar os bancos da Europa, ao custo talvez de uma década de sofrimento da populaça grega".

Sobre a troca forçada de governos na Itália e na Grécia, em 2011, que Janjuah chama de "totalitarismo": "Esse não é só um fenômeno da eurozona, mas é evidente que a remoção de governos eleitos para dar lugar a tecnocratas bem enturmados que simplesmente servem aos interesses da elite tornou-se uma especialidade da Europa".

O poder da banca: "Os bancos seriam tão poderosos que nós todos estaríamos presos a eles e ao maior dos "nonsenses", o de que calotes ["defaults"] nunca deveriam acontecer (a menos que sejam triviais e muito insignificantes)?".

Janjuah espezinha as políticas de Mario Draghi e Ben Bernanke (presidentes do Banco Central Europeu e dos EUA, o Fed, respectivamente). Diz que os bancos centrais ajudaram a criar a crise que estourou de vez em 2008, pois mantiveram os juros muito baixos por muito tempo, o que provocou péssima alocação de capital e, enfim, bolhas. Draghi e Bernanke estariam agora repetindo e aumentando a dose, com "impressão" maciça de dinheiro.

"Tais bolhas servem para criar a ilusão de que estamos "mais ricos" [devido ao aumento do preço de ações e outros ativos financeiros, o que pode criar uma confiança artificial e despesas excessivas]."

Bolha: "Admitindo que estamos de novo em outra disparada [nas Bolsas etc.] movida a liquidez [dinheiro dos BCs], cortesia de Draghi e Bernanke, então precisamos lembrar de umas coisas. Primeiro, tais disparadas podem durar dias, semanas, meses, talvez até 2013... Segundo, quando procurar onde as bolhas estão, pense o seguinte: elas estão em todo lugar. Terceiro, quando essa bolha estourar, não vai haver saída fácil. Quem virá com o dinheiro de socorro [Janjuah diz que governos já estão superendividados, e os BC, lotados de empréstimos]?".

Sinal dos tempos: "O fim da bolha será sinalizado pela anarquia monetária, que vai criar mais inflação na economia real, ou pelo colapso deflacionário do crédito...".

Por fim: Janjuah não é um esquerdista infeliz a soldo da banca. É um economista padrão, "liberal".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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