terça-feira, 20 de março de 2012

Serra está de volta ao jogo tucano:: Raymundo Costa

Serra deve ganhar com mais de 70% a prévia dos tucanos, no domingo. Nem poderia ser diferente. A esta altura, o PSDB já não tem como recuar da disputa interna. É a única maneira de o partido mostrar ao país que continua vivo. E a contagem dos votos deve ser uma demonstração de que os tucanos efetivamente confiam na força do candidato para vencer a eleição de 7 de outubro e manter São Paulo dentro do jogo político nacional. É disso que se trata.

A eleição para a Prefeitura de São Paulo não será nacionalizada, como às vezes PT e PSDB querem fazer crer. Interessa para o eleitor paulista é discutir os problemas da cidade como saúde, educação, mobilidade urbana, entre outros temas de igual ou mais apelo popular.

A eleição municipal em São Paulo, assim como em todas as outras cidades, não é uma disputa nacionalizada, mas tem caráter nacional. O senador Aécio Neves (MG) e mesmo o governador Geraldo Alckmin (SP) poderiam até não conter um sorriso de satisfação em caso de derrota de Serra. Alckmin só declarou apoio ao pré-candidato na sexta-feira. Mas o fato é que os dois precisam que ele tenha um grande desempenho e até vença e mantenha o PSDB como alternativa de poder para 2014.

Portanto, o eleitor tucano está avisado: a prévia do fim de semana será encerrada com abraços, apertos de mãos e entusiasmadas declarações dos derrotados de apoio ao vencedor. Mas ele deve entender que a prévia será apenas mais um capítulo de uma novela cujo desfecho da trama só deve ocorrer dois anos depois. Isso mesmo, nas negociações para a sucessão da presidente Dilma Rousseff, em outubro de 2014.

No paiol da direção nacional do PSDB já estão estocadas armas de destruição em massa para a hipótese de Serra querer disputar a Presidência pela quarta vez. A mais mortífera delas é a realização de eleições prévias para a escolha do candidato do PSDB a presidente logo no primeiro semestre de 2013.

A antecipação da escolha do candidato, acreditam os adversários, deixaria Serra emparedado, sem condições de largar um cargo que acabara de assumir, no caso, é claro, de vencer as eleições de outubro. É curioso: fala-se mais no PSDB que no PT sobre a possibilidade de Serra deixar a prefeitura para disputar a Presidência.

Um plano ousado e de execução difícil, sem falar que Serra tem mostrado aos "queridos companheiros" tucanos que é osso duro de roer. Ele saiu por baixo das eleições presidenciais de 2010. Era dado como morto politicamente. Como dizia a senadora Marta Suplicy, só lhe restara o Twitter. Os caciques tucanos sempre souberam que ele era a única alternativa viável para tentar manter com o partido a prefeitura da maior cidade do país, mas queriam ser credores da candidatura.

Indicado pelos caciques, poderia não haver prévia, mas Serra deveria sua candidatura aos seus adversários de dentro do PSDB. O tucano conseguiu inverter o jogo, mas não tanto quanto gostaria, talvez por ter esticado demais a corda, antes de admitir que seria candidato. A teimosia de outros dois tucanos, sobretudo José Aníbal, que decidiram não abrir mão da pré-candidatura, também lhe atrapalharam os planos.

O fato é que, agora, José Serra volta a ser um fator a ser considerado nas equações tucanas. Isso, é claro, se vencer, como se espera, a prévia e, mais do que isso, a eleição para a prefeitura. No ambiente tucano, sempre há espaço para a especulação sobre uma eventual "cristianização" do candidato. Não seria a primeira vez. Por enquanto, parece falar mais alto o instinto de sobrevivência.

O simples fato de Serra ser candidato em São Paulo possivelmente fará do PSDB o partido com o maior número de votos na eleição municipal. Assim como o Democratas (DEM) teve uma extraordinária votação em 2008, por causa da eleição de Gilberto Kassab. Isso mantém os tucanos como o partido que rivaliza com o PT em nível nacional, apesar de a tendência ser a de o Partido dos Trabalhadores eleger um número maior de prefeitos, devido à interiorização cada vez maior da sigla.

"Um balanço das duas últimas eleições municipais, ambas realizadas com o Partido dos Trabalhadores (PT) na Presidência da República, combinado com fatos da conjuntura, dá boas pistas sobre a tendência do pleito de 2012, que sinaliza para um decréscimo da oposição em relação à performance de 2008, particularmente do DEM e do PPS [Partido Popular Socialista], e um crescimento dos partidos da base, especialmente do PT e do PSB [Partido Socialista Brasileiro], cuja principal liderança é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos", diz um estudo recente do analista político e diretor de Documentação do Diap, Antônio Augusto Queiroz.

Como nas eleições anteriores - analisa Antônio Augusto - "as grandes disputas de 2012, que poderão dar alguma dimensão nacional à disputa, acontecerão nas capitais e nas cidades com mais de 100 mil eleitores, localidades onde o PT, o PSDB e o PMDB, nesta ordem, apresentam melhor performance em relação ao percentual de prefeituras que administram". Mesmo nessas cidades, o eleitor estará mais preocupado com os problemas locais e a tendência é passar ao largo do embate nacional entre o PSDB e o PT.

No caso específico de São Paulo, "a disputa Serra versus o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Fernando Haddad. "Aliás, se insistirem na estratégia de nacionalizar o pleito em São Paulo, como uma espécie de terceiro turno da eleição presidencial, correm (PSDB e PT) o risco de deixar mais espaço para o PMDB de Gabriel Chalita", afirma o diretor do Diap, órgão de assessoria parlamentar da CUT.

Por mais previsível que seja, a prévia marcada para domingo deve fazer bem ao PSDB, um partido "cupulista" desde o nascimento. Pena que a sigla não tenha se estruturado mais profissionalmente. Calcula-se em cerca de 20 mil os filiados aptos a votar, em 8 mil os que acompanham e conhecem os candidatos e algo entre 4 mil e 6 mil o números de votantes. É pouco, para um partido que esteve duas vezes na Presidência da República.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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