domingo, 29 de abril de 2012

Agnelo enviou emissários a Cachoeira

Escutas feitas pela PF mostram que contraventor recebeu assessores de governador; petista queria que Demóstenes parasse de atacá-lo

Fábio Fabrini, Alana Rizzo

BRASÍLIA - Assessores do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), figuram como mensageiros do petista em diálogos com Carlinhos Cachoeira e seus aliados, apontam as investigações da Polícia Federal na Operação Monte Carlo. Nas conversas, eles levam supostos recados de Agnelo e tratam de interesses da organização criminosa no governo. Apontado no inquérito como o “01 de Brasília”, o próprio governador teria enviado, via Cachoeira, um aviso ao senador Demóstenes Torres para que críticas a seu respeito cessassem. A informação aparece no resumo de um dos telefonemas entre o contraventor e o ex-diretor da Delta Construções, Cláudio Abreu, em 6 de julho de 2011. “Te contei ontem que o coisa... mandou um recado para o Demóstenes (de) que, se bater nele, vai contar que reuniu lá no apartamento dele para pedir obras?”, questiona Cachoeira. “Você comentou ontem comigo. Uai, negar, né, doutor? Chamou o cara de mentiroso, safado”, responde Abreu. A PF diz que os dois, provavelmente, falam de Agnelo e não informa que situação teria motivado a ameaça.

O ex-subsecretário de Esporte João Carlos Feitosa, o Zunga – que pediu demissão após a revelação de que teria solicitado uma conversa entre o governador e Cachoeira – figura nas escutas como interlocutor de Agnelo em outra circunstância. Em 16 de junho de 2011, o contraventor é avisado pelo araponga Idalberto Matias, o Dadá, de que Zunga dissera que o “01, Magrão” precisava lhe falar. Segundos depois, Cachoeira liga para o assessor de Agnelo, querendo saber do que se trata.

De acordo com a PF, Zunga queria saber se Demóstenes trabalhava para convocar o governador a prestar explicações sobre algum caso no Congresso. E pede para Cachoeira interceder junto ao senador. “Parece que o amigo seu aí, o careca, tava com um negócio de fazer um pedido de convocação. Verifica se tem fundamento isso”, solicita. Questionado sobre qual seria o motivo da convocação, ele responde: “Negócio que estava envolvido um pessoal grande do partido. Vou ‘puxar’ melhor e, se for verdade mesmo, ele (Agnelo) pediu para você se pode ajudar. Fica ruim chamar ele (sic)”, diz. Segundo a PF, Zunga negociou com a organização de Cachoeira nomeações no Serviço de Limpeza Urbana dias antes da posse de Agnelo e intermediou, junto ao ex-chefe de gabinete do petista, Cláudio Monteiro, conversa de Demóstenes com o então governador eleito. O objetivo do senador seria tratar de interesses do grupo, como indicam as escutas. Em 30 de dezembro de 2010, Cláudio Abreu cobra de Dadá um retorno sobre conversas com Agnelo, intermediadas por Monteiro, que se afastou do cargo recentemente para se defender de denúncias de que recebeu dinheiro da organização. “É importantíssimo ele fazer essa interface com o governador, ficar falando bem da gente para o governador”, orienta.

Novos grampos da PF indicam que Cachoeira contribuiu em 2010 para a campanha de Monteiro, que se candidatou a deputado distrital. Em maio do ano passado, o próprio Cachoeira se refere a Monteiro como “o cara que eu ajudei muito na campanha”, em conversa com Edivaldo Cardoso, ex-diretor do Detran de Goiás.

Outro lado. Monteiro nega ter recebido dinheiro do grupo de Cachoeira. Agnelo informou, por meio de seu porta-voz, Ugo Braga, que os grampos “são uma série de fofocas que não tem nada a ver com o governador do DF”. Ele alegou que os diálogos sobre o suposto recado de Agnelo a Demóstenes não menciona o nome e nem a palavra governador. O porta-voz assegurou que o governador nunca se reuniu com Cláudio Abreu e que o grupo de Cachoeira não conseguiu emplacar nomeações no DF, embora tenha se articulado para isso. Procurado pelo Estado, Zunga não foi encontrado.

Senador comemorou processo da Celg no STF, revela grampo

Em uma conversa entre o senador Demóstenes Torres e o contraventor Carlinhos Cachoeira, gravada pela Polícia Federal, o parlamentar comemora uma decisão do ministro do STF Gilmar Mendes em uma ação bilionária envolvendo a Companhia Energética de Goiás (Celg). “Conseguimos puxar para o Supremo uma ação da Celg aí viu? O Gilmar mandou buscar", afirmou o senador, que avaliou que Mendes conseguiria abater cerca de metade do valor da dívida da Celg com uma decisão judicial. “Dependendo da decisão dele, pode ser que essa Celg se salva (sic), viu? Ele que consegue tirar uns dois... três bilhões das costas da Celg.” Cachoeira responde: “Nossa senhora! Bom pra caceta, hein?”. Ao Estado, Gilmar Mendes observou que o relatório da PF ressalta que “não há qualquer referência de ilegalidade no procedimento de Demóstenes” com ele.

“Este diálogo, dentre outros, serve fundamentalmente para demonstrar que Demóstenes Torres tem o hábito de informar Cachoeira de sua atuação política”, diz o documento. Segundo o ministro, trata-se de uma decisão de rotina, que envolve um “assunto técnico”. “Demóstenes nunca falou comigo desse processo. É uma rotina do Supremo. É um conflito entre o Estado de Goiás e a União, envolvendo a Celg e discutindo apenas indenização. Foi só para subir o processo para o Supremo, que será processado normalmente.”

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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