sexta-feira, 6 de abril de 2012

Bicheiro queria Demóstenes na base de Dilma

Além de pretender estender seus negócios ilegais a outros estados, o bicheiro Carlinhos Cachoeira queria ter influência no Planalto. Gravações feitas pela PF revelam que ele pressionava o senador Demóstenes Torres a ir para o PMDB e, assim, integrar a base de Dilma

Aposta alta de Cachoeira

Bicheiro pretendia ter influência até com a presidente Dilma, por meio de Demóstenes

Paulo Celso Pereira

As ambições do contraventor Carlinhos Cachoeira ultrapassavam as divisas de Goiás. Gravações feitas pela Polícia Federal revelaram que o bicheiro tentou ano passado estender seus negócios a Mato Grosso, Distrito Federal e Tocantins. Mais do que isso: ele sonhava colocar seu principal operador político, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), próximo ao gabinete da presidente Dilma Rousseff.

Com as novas revelações, os negócios do bicheiro, que já haviam alvejado os dois principais partidos oposicionistas (DEM e PSDB), passaram a constranger os dois maiores partidos da base aliada. Conversas telefônicas divulgadas pela revista "Época" mostram Cachoeira incentivando Demóstenes a se filiar ao PMDB e se aproximar da presidente.

- Fica bom demais se você for pro PMDB... Ela quer falar com você? A Dilma? A Dilma quer falar com você, não? - pergunta Cachoeira.

O senador responde:

- Por debaixo, mas, se eu decidir, ela fala. Ela quer sentar comigo se eu for mesmo. Não é pra enrolar.

O bicheiro então se anima:

- Ah, então vai, uai, fala que vai (para o PMDB), ela te chama lá.

O diálogo ocorreu em abril de 2011, quando Demóstenes negociava sua entrada para o PMDB, o que não prosperou. À revista, o Planalto informou que Dilma não conversou com Demóstenes desde que assumiu a Presidência.

As gravações de conversas do bicheiro também deixaram em maus lençóis o ex-governador do Tocantins Marcelo Miranda e colocam o governo do petista Agnelo Queiroz no Distrito Federal sob suspeita. Na conversa em que trata da ida de Demóstenes para a base aliada, Cachoeira pede que o senador use sua influência para que o Supremo Tribunal Federal aceite um recurso de Miranda e o emposse no Senado.

- Ele (Miranda) é um cara nosso - diz o contraventor.

Demóstenes promete então ajudar. Miranda havia sido eleito para a vaga, mas foi impedido de tomar posse por ter sido condenado por abuso de poder político nas eleições de 2006.

Cachoeira e o então o diretor da Delta Construções, Cláudio Abreu, discutiram fazer negócios com o maior adversário de Miranda no Tocantins, o atual governador, José Wilson Siqueira Campos. Abreu contou ao contraventor que Eduardo Siqueira Campos, filho do governador e secretário de Relações Institucionais do estado, teria direcionado um contrato para o grupo.

- Eduardo também é bom, Carlinhos. Não pode falar mal dele, não, cara - diz Abreu: - Ele mandou dar o negócio pra nós lá: a inspeção veicular do Tocantins.

Siqueira Campos negou o favorecimento e lembrou que não há definição de quem fará os serviços. Miranda disse mal conhecer Cachoeira.

A maior preocupação da base é com Agnelo. Desde o início da operação da PF, parlamentares da oposição insinuam no Congresso que o governo do DF tinha relações com o bicheiro. Ontem, vieram à tona gravações mostrando que o bicheiro e um comparsa trabalhavam para garantir um contrato com o DFTrans, órgão que gerencia o transporte público no DF.

Nos diálogos, de junho de 2011, eles dizem ter acordado com um um funcionário a destinação do contrato de bilhetagem eletrônica dos ônibus do DF, estimado em R$ 60 milhões, para a Delta, que integraria o esquema. Segundo a PF, o funcionário seria o diretor financeiro e administrativo do DFTrans, Milton Martins de Lima Júnior, que negou envolvimento. Segundo ele, empresas o procuraram para apresentar tecnologia, mas ninguém falou em nome de Cachoeira. Milton afirmou que nenhuma nova empresa foi contratada para a bilhetagem e que os valores citados são distantes dos atuais, que não chegam a R$ 1,5 milhão .

Colaborou Fernanda Krakovics

FONTE: O GLOBO

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