segunda-feira, 9 de abril de 2012

Bobagens comparativas:: Vinicius Mota

Poucas coisas são mais tediosas que o debate ideológico entre economistas. De um lado estão os que postulam, há 80 anos, a supremacia da racionalidade do governo sobre a confusa alocação de recursos do mercado.

Tal pendor estatista, realimentado após a crise de 2008, já recebeu um choque da realidade. Governos entupidos de deficits e dívidas atravancam a retomada. Ou se equilibram ou serão os vetores, na melhor das hipóteses, de uma longa pasmaceira.

Do outro lado estão os liberais puro-sangue. Como os Bourbon do chiste, nada aprenderam do cataclismo provocado pela finança selvagem.

Lançam agora ataques primitivos às medidas de apoio à indústria do governo brasileiro. O pacote decerto veio cheio de defeitos. Falta clareza sobre o critério para eleger beneficiários; o conjunto tem fraca coerência interna e baixo alcance.

Nossos liberais, contudo, miram outro alvo. Para eles, o Brasil não precisa ter tanta indústria assim. Poderia especializar-se na produção de minério, petróleo e comida e comprar quase todo o resto de quem fabrica com mais eficiência no exterior.

A roça, o poço e a mina constituiriam as nossas "vantagens comparativas" -termo celebrizado pelo britânico David Ricardo (1772-1823). Vantagens comparativas, ensina entretanto a história, sempre foram conquistas híbridas das nações, que envolveram instituições econômicas, políticas e até militares.

Quão restrito seria o leque ideal de vantagens comparativas para países com populações gigantescas, como China, Índia, EUA e Brasil? Um punhado de produtos, com preços sujeitos a oscilação brusca, asseguraria a estabilidade dessas sociedades?

Em especial quando EUA, China e Europa bagunçam o coreto dos preços mundiais, com grossos incentivos a seus produtores, é de uma ingenuidade atroz advogar que o Brasil se resigne ao papel de eficiente produtor de meia dúzia de commodities.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Nenhum comentário:

Postar um comentário