domingo, 29 de abril de 2012

Capital é refém da indústria do grampo

Disputas por poder e dinheiro alimentam rede de espionagem e chantagens

Fabiano Costa

Na cidade que traça os rumos do país, não há diálogo, e-mail ou traição que esteja imune aos olhos e ouvidos indiscretos de arapongas. À sombra do poder, a indústria dos grampos se esgueira pelo submundo de Brasília, utilizando a chantagem como estratégia para manter políticos, funcionários públicos e empresários sob seu controle.

Por trás dos mais recentes escândalos da República, entre eles o que descortinou a influência do bicheiro Carlos Cachoeira sobre governos e políticos, identificam-se as digitais de uma rede clandestina que assombra Brasília há mais de uma década.

De acordo com um ex-integrante do setor de inteligência governamental, o mercado negro da espionagem da cidade é alimentado por disputas de poder e tentativas de desviar dinheiro público.

Detetive diz que grampo pode custar até R$ 25 mil

O esquema de espionagem segue uma mesma linha de atuação, conta um ex-delegado da PF. Obtidas as provas incriminadoras, um emissário do chantageador procura a vítima para adverti-la sobre o material e ameaçá-la. Na maioria das vezes, as abordagens se dão em tom de cortesia, como se o mensageiro estivesse prestando um favor ao interlocutor.

– O roteiro nesses casos é semelhante. O enviado diz: "vim aqui para te ajudar. Para você ver, fulano tem tudo isso nas mãos, mas está disposto a esquecer – relata o ex-delegado.

A desfaçatez dos espiões clandestinos é tão grande que seus serviços são oferecidos em sites e classificados de jornais. A rede de arapongas local oscila desde profissionais freelancers até poderosas agências privadas de espionagem.

Na internet, uma das principais empresas do setor, administrada por ex-servidores da área de segurança pública, oferece aos seus clientes “antecipação de fatos e situações para subsidiar o processo de tomada de decisões políticas e monitoração e acompanhamento de eventos de campanhas eleitorais”.

Um detetive que atua nos meandros de Brasília, conhecido no mercado como Júnior, afirma ser procurado com frequência por políticos e empresários. Em regra, seus clientes querem colocar grampos nas residências e escritórios de rivais para coletar material para coação. A instalação de um simples grampo pelo período de um mês pode custar entre R$ 15 mil e R$ 25 mil.

FONTE: ZERO HORA (RS)

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