quarta-feira, 25 de abril de 2012

CPI começa com 65% de governistas e relator 'fiel'


Petista diz que foco não é o Planalto, mas fala em apurar "doa a quem doer"

A CPI Mista que investigará o bicheiro Carlinhos Cachoeira e suas conexões com o mundo político e a construtora Delta terá o ritmo ditado pelo deputado Odair Cunha, de Minas. Escolhido relator, ele afirmou ser um petista "fiel" e disse que o foco é o contraventor: "Não se trata de uma investigação que vá para cima do Planalto ou qualquer membro do governo". Admitiu, porém, mudança de rumo, "doa a quem doer", dependendo do avanço das investigações. Com 41 dos 63 parlamentares, os governistas terão o controle da CPI. O PMDB escalou políticos suplentes e inexperientes, deixando ao PT a tarefa de blindar o Planalto. O presidente do Senado, José Sarney, disse que o Congresso viverá "algum tempo de muitas revelações e turbulências".

Fiel petista à frente de CPI

PMDB escala segundo time e deixa para PT a tarefa de blindar o Planalto nas investigações
Maria Lima

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

Caberá ao PT ir para a linha de frente na defesa do governo na CPI mista de Carlinhos Cachoeira, que terá a primeira reunião hoje para eleger e oficializar a escolha do presidente, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e do relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG). Principal partido da base governista no Congresso, o PMDB lavou as mãos ao indicar nomes considerados fracos e inexperientes em CPIs, deixando para o PT a tarefa espinhosa de blindar o governo dos ataques da oposição. Com a escolha de Odair, um jovem petista disciplinado e afinado com o Planalto, o ex-presidente Lula foi derrotado, por não conseguir emplacar Cândido Vaccarezza (PT-SP), considerado mais agressivo.

Segundo líderes governistas, Lula brigou por Vaccarezza até o fim, mas o Planalto o vetou e tentou impor Paulo Teixeira (PT-SP). Diante do impasse, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), agiram para escolher Odair. Com a preocupação crescente no PT e partidos aliados sobre os rumos da CPI, Lula desembarca hoje em Brasília para encontros com a presidente Dilma Rousseff e líderes de PT e PMDB.

O relator terá o poder de ditar o ritmo das investigações. Após ser anunciado, ontem, já adotou um tom moderado, afirmando que as investigações serão sérias, "doa a quem doer", mas teve o cuidado de ressaltar que isso não significa envolver governo:

- Todos temos relação com o governo da presidenta Dilma, mas temos clareza de que estamos investigando o Carlinhos Cachoeira e suas relações. Não se trata de uma investigação que, necessariamente, vá para cima do Planalto ou qualquer membro do governo. Queremos investigar o fato determinado, que originou a CPMI. Se no curso das investigações (surgirem alguns governistas), a partir dos indícios e das provas, vamos produzir a investigação, doa a quem doer. Vamos produzir uma investigação séria, serena e que realmente identifique esse poder paralelo que se instalou, a partir das relações do Carlos Cachoeira - disse Odair, negando que fará mais pelo governo do que outros petistas cotados para relator: - Sou tão fiel quanto qualquer outro petista.

PMDB indica suplentes

Pela manhã, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), reuniu-se com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Além de expor a preocupação com a CPI, pôs os senadores que indicaria: o novato Sérgio Souza (PMDB-SC), suplente da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; Ricardo Ferraço (PMDB-ES), dos chamados independentes; Ciro Nogueira (PP-PI); Paulo Davin (PV-RN), suplente do ministro Garibaldi Alves (PMDB-RN); e Vital do Rêgo.

Com esses suplentes e estreantes em CPIs, Renan mandou um recado ao governo: a bola está com o PT. Renan tentou indicar o líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), para constrangê-lo a assumir diariamente a defesa do governo. Braga não aceitou. Já um dos deputados indicados pelo PMDB é João Magalhães (MG), processado e absolvido no STF por ter sido denunciado como um da máfia dos sanguessugas.

Sem o primeiro time do PMDB, a liderança do PT reforçou as indicações do bloco PT/PSB/PCdoB/PDT com Humberto Costa (PT-PE), Lídice da Mata (PSB-BA), José Pimentel (PT-CE) e Vanessa Graziottin (PCdoB-MA). O senador Pedro Taques (MT), considerado independente, também entrou na cota governista.

A oposição vibrou com a dificuldade da base de ter os mais experientes.

- Desse jeito, a oposição vai acabar tomando conta dessa CPI - comentou o líder e presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

FONTE: O GLOBO

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