segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dilma busca agenda para rivalizar com CPI


Raymundo Costa e Fernando Exman

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff está decidida a evitar que a instalação da CPI do Cachoeira paralise a agenda do governo e atrapalhe a tramitação dos projetos de interesse do Executivo no Congresso. Nesta semana, a presidente protagoniza uma maratona de eventos públicos pelo país. Em outra frente, os líderes do governo no Parlamento terão a missão de assegurar a aprovação das propostas consideradas estratégicas pelo Palácio do Planalto. A CPI deve começar os trabalhos na quarta-feira e terá seis meses de duração, com o término previsto coincidindo com o fim da campanha eleitoral.

A partir de agora Dilma disputa a atenção da imprensa e da população com a CPI que investigará as ligações de agentes públicos e empresas com o suposto esquema ilegal de jogos de azar chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Os holofotes estarão mais voltados a eventuais irregularidades praticadas por empreiteiras e empresas contratadas pelo governo do que ao cumprimento do cronograma de obras, entregas de moradias do Minha Casa, Minha Vida ou divulgações dos resultados do programa Brasil Sem Miséria.

Os auxiliares da presidente recorrem a uma imagem para explicar o esforço do governo. Quando ocorre uma enchente, dizem, deve-se construir a contenção em volta da casa. É isso que faz Dilma: mostrar que o governo continua governando, independentemente da CPI. Além disso, Dilma tem procurado se informar sobre os contratos de empreiteiras supostamente ligadas a Cachoeira, como a Delta Construção, com o governo, especialmente no PAC.

Dilma avisou os ministros que a CPI não deve servir de justificativa para a paralisação do governo, e alertou que continuará convocando os subordinados para reuniões no Palácio do Planalto e cobrando as ações deliberadas anteriormente. Segundo a presidente, a partir da instalação da CPI há uma pauta política. Mas a pauta executiva deve continuar andando.

Nos próximos dias a presidente deve participar, em Sergipe, da cerimônia de anúncio do acordo entre a Vale e a Petrobras para a exploração de uma mina de carnalita - minério do qual se extrai cloreto de potássio, matéria-prima para a produção de fertilizantes. Ela também deve divulgar um reforço no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade Urbana. "Vamos botar o bloco na rua", diz um auxiliar de Dilma, que em geral é mais comedida que seu antecessor em matéria de marketing.

Na quinta-feira, a presidente irá ao Rio de Janeiro para realizar duas atividades. A primeira será uma cerimônia de balanço do Brasil Sem Miséria, programa considerado como uma das meninas dos olhos do governo Dilma. A segunda será uma visita a São João da Barra, para "faturar" a celebração da extração do primeiro litro de óleo feito pela OGX no Porto do Açu.

No âmbito político, depois que ministros petistas tiveram reuniões com o presidente do PT, Rui Falcão, e se envolveram na disputa interna pelo cargo de relator, Dilma pediu para o primeiro escalão do Executivo não se envolver de corpo e alma nos assuntos da CPI. A presidente negou, a auxiliares, que tenha articulado uma operação abafa, diz acreditar na separação entre os Poderes e que é legítimo o Legislativo criar uma comissão para investigar "malfeitos". Por outro lado, não quer perder a bandeira da moralidade, que vem contribuindo para os altos índices de aprovação da presidente junto ao eleitorado. Tanto que nos avisos aos ministros é sempre lembrado que "cada um cuida da sua vida", um alerta de que não protegerá quem tiver envolvimentos com irregularidades apontados pela CPI.

A CPI deve será instalada na quarta-feira, um dia depois de os líderes partidários indicarem seus integrantes. Nesses dois dias o governo terá também uma prova dos desafios que enfrentará no Congresso durante os próximos meses. O Senado, por exemplo, deve votar amanhã a Resolução 72, que tenta acabar com a chamada "guerra dos portos". O governo também tenta acelerar a tramitação da Lei Geral da Copa. Na Câmara, as atenções se concentrarão nas discussões sobre o relatório do Código Florestal, do deputado Paulo Piau (PMDB-MG).

"Vamos selecionar as matérias mais importantes", comentou o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). "CPI sempre drena muito o trabalho. Então, nesse momento avalio que vamos ter que trabalhar mais."

FONTE VALOR ECONÔMICO

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