domingo, 15 de abril de 2012

Em 8 anos, repasses federais para a Delta cresceram 2.000%

Fernando Cavendish, dono da empreiteira central no caso Cachoeira, entrou em evidência após acidente aéreo

Empresa, uma das seis maiores empreiteiras do país, é suspeita de ter como sócio oculto o contraventor preso

Dimmi Amora, Natuza Nery

BRASÍLIA - Fernando Cavendish, dono da Delta Construção, viveu em 17 de junho de 2011 duas tragédias: "Perdi minha mulher e virei alvo".

A confidência, feita a amigos, remonta a um acidente naquela tarde. No trajeto de Porto Seguro (BA) a Trancoso (BA), o helicóptero que levava sua mulher e seu filho caiu, matando os dois e mais cinco.

O episódio explicitou a relação entre ele e um amigo importante: o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Pouco depois, descobriu-se que os dois foram à Bahia em um jatinho de Eike Batista.

A exposição do caso trouxe à tona a bilionária evolução dos negócios de Cavendish. Agora, a empreiteira aparece no centro da investigação sobre os negócios suspeitos do empresário Carlinhos Cachoeira.

Foi no Rio, a partir de 2000, que a Delta surgiu como potência da construção civil. Já recebeu R$ 1,5 bilhão em obras no Estado. Atua ainda na coleta de lixo, medição de água e aluguel de carros.

Hoje figura entre as seis maiores empreiteiras do país, focada no setor público. O contato pessoal de Cavendish com políticos é tido no mercado como segredo do sucesso.

A empresa emergiu em 2005 para o cenário nacional. Foi escolhida para tocar a maior parte de uma das primeiras grandes ações do governo Lula, uma operação sem licitação para remendar rodovias federais.

Em pouco tempo, bateu mais recordes: em 2007, virou campeã de recebimentos federais quando o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dava os passos iniciais. Entre 2003 e 2011, cresceu mais de 2.000% em recursos federais.

Também avançou em 24 Estados e no Distrito Federal. Ao lado de Goiás, o DF está no foco do atual escândalo com Cachoeira, apontado pela polícia como sócio oculto de Cavendish. Na semana passada, foi criada uma CPI para investigar o caso.

O principal cliente da Delta é o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), de onde vêm 90% de tudo o que a empresa recebeu da União em 2011.

Por lá, a Delta é conhecida como "a mergulhadora". Na confraria dos construtores, Cavendish recebe a alcunha de "Sr. Ousado". Ele não quis falar com a Folha.

No ramo, "mergulhar" o preço é a prática de fazer uma oferta muita baixa na licitação e, após vencer, não cumprir o combinado ou pedir revisões que encarecem a obra.

Nem sempre, porém, o "mergulho" deu certo. Em 2006, a Delta perdeu parte de um grande negócio porque a Prefeitura do Rio se recusou a revisar os valores da construção de um estádio.

Em 2011, o governo ameaçou a Delta: caso não cumprisse o prazo na entrega de um terminal do aeroporto de Guarulhos, a empresa não receberia novos contratos.

A Delta cumpriu, mas a imagem saiu arranhada: no dia da inauguração, o forro do teto desabou.

A investigação da Operação Monte Carlo da Polícia Federal aponta ligações de Cachoeira com a companhia no Centro-Oeste.

Ao menos R$ 39 milhões da Delta foram depositados em empresas-fantasma ligadas ao grupo de Cachoeira, afirma a PF.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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