quinta-feira, 5 de abril de 2012

Fábrica de dinheiro:: Rogério Gentile

O escândalo da compra inútil de 28 lanchas pelo governo Dilma Rousseff é revelador da criatividade da politicagem brasileira na hora de resolver um de seus principais problemas, que é justamente o de como fabricar dinheiro.

Seu roteiro é um verdadeiro "manual do malfeito". Em primeiro lugar, o Ministério da Pesca simplesmente inventou uma necessidade. Comprou por comprar. Disse que precisava aumentar a fiscalização ambiental da atividade pesqueira no país, mesmo não tendo a competência legal para atuar nessa área.

Também não avaliou se órgãos que podem fazer tal fiscalização, como Marinha, Polícia Militar e Ibama, precisavam de tais embarcações e se teriam condições para mantê-las.

O segundo passo foi realizar uma concorrência com graves suspeitas de dirigismo, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União.

O ministério fez tantas e tão específicas exigências que pouquíssimos estaleiros teriam condições de disputar. O texto chegava a especificar as configurações do banheiro do barco.

Sem a competição, evidentemente, o governo federal acabou comprando barcos por valores superiores aos praticados pelo mercado. "Pelo que pagou por cinco lanchas, o ministério poderia ter adquirido seis", diz a auditoria do TCU.

O final da história é o clássico. Um assessor do Ministério da Pesca procurou o fabricante e, obviamente, conseguiu uma doação para as campanhas eleitorais do PT de Santa Catarina, coincidentemente o partido e o Estado do então ministro da Pesca.

E as lanchas? Bom, quase três anos após a primeira licitação, quando a auditoria do tribunal de contas foi finalizada, 23 dos 28 barcos estavam fora de operação, muitos deles guardados pelo próprio estaleiro, pois não havia onde ser entregues, e correndo risco de sofrer danos por falta de manutenção adequada.

Fabricado o dinheiro, claro, não havia motivo algum para o ministério se preocupar com as embarcações.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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