terça-feira, 17 de abril de 2012

O pulso ainda não pulsa:: Vinicius Torres Freire

Economia foi ao fundo do poço por volta de outubro, mas por lá ficou desde então, apesar de estímulos

A economia brasileira deste primeiro trimestre lembra um pouco aquelas cenas clichê de filme ou seriado de hospital. O coração do sujeito parou de bater; meia dúzia de médicos injeta substâncias ressuscitantes no paciente, lhe dá choques e massagens ou entuba o infeliz. Mas o coração não volta a bater; fica aquele traço angustiante na tela que monitora o coração.

Sim, sim, por favor, claro, a economia brasileira não está moribunda. Mas está quase estagnada faz nove meses. O pulso ainda não pulsa mesmo depois de cortes de juros, relaxamentos monetários, estimulantes tributários, orações pelo espírito animal dos empresários e outras atitudes heroicas dos doutores-economistas do governo.

A criação de novos empregos formais está em baixa desde maio de 2010. Decerto em 2010 a economia se recuperava do tombo de 2009. Mas a tendência de baixa continuou de maio de 2011 até agora.

Nos últimos 12 meses, a economia cresceu uns 2%, segundo a estimativa oferecida pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Até o comércio de varejo andou fraco no primeiro bimestre.

Os estoques das fábricas estão altos. Os juros para o consumidor de varejo não caíram -está difícil vender carro. O setor imobiliário vai crescer mais devagar. As famílias estão endividadas, ao menos a julgar pelo índice de inadimplência.

Isso pelo lado da demanda. "O lado da oferta segue espremido entre o aumento dos custos de produção e a dificuldade de repassar preço -resultado da demanda ainda pouco robusta em alguns segmentos e da competição de importados", escreviam os economistas do Itaú em relatório com base em indicadores conhecidos até 10 de abril.

Não se trata de culpar os doutores-economistas oficiais. Para o bem ou para o mal, a atividade econômica tem manhas que driblam terapias ou mezinhas do governo.

Ficou evidente que não se conhecem bem os efeitos de curto prazo (um ano, por aí) da política monetária, em especial quando ela combina mexidas em juros com outros apertos nas torneiras do crédito. Pior ainda quando ao aperto no crédito se soma um gasto algo mais comedido do governo, como em 2011.

O investimento pena por causa da indústria, por causa do susto mundial de 2011 e porque o governo ele mesmo investiu menos.

Para aumentar a confusão, a inflação baixou para um nível ainda chatinho mesmo com o tombo do PIB, dos 7,5% de 2010 para os 2% de agora. Inflação na meta de 4,5% demandaria uma recessão?

O emprego formal cresce cada vez mais devagar faz quase dois anos, mas a taxa de desemprego é historicamente baixa e o valor médio dos salários cresce a 10% anuais (em termos nominais). Isso enquanto se fala de "desindustrialização" ou, ao menos, de catatonia da indústria.

Os economistas mais certeiros creem em crescimento de 3,5% neste ano -longe de uma tragédia, no curto prazo. Acham até que o governo exagera tanto nos estímulos ao consumo que se arrisca a quebrar costelas ou o esterno do doente na tentativa de ressuscitá-lo -de causar mais inflação, além do aumento já projetado lá para o final do ano.

O curto prazo, pois, parece mais nebuloso que o futuro. No entanto, estamos quase todos, governo em particular, tratando do curto prazo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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