segunda-feira, 16 de abril de 2012

Palavra de Lula:: Ricardo Noblat

“Eu não posso falar em nome do PT, mas acho que a gente nunca pode temer a verdade.” (Gilberto Carvalho, ministro)

Pobre Dilma. Vista de longe, parece que manda com mão de ferro nos seus ministros, no partido que poderia chamar de seu e nos outros que a apoiam. Vista de perto, não é assim. Tem uma pessoa que, bem ou mal de saúde, manda mais do que ela. Pior: que lhe dá ordens quando quer. E a quem Dilma obedece por lhe dever favores. Você sabe quem é...

Aprovada por 77% dos brasileiros, tudo estava ótimo para Dilma até aqui. Desde que a economia não desandasse...Os partidos reclamavam dos seus maus modos, mas não tinham o que fazer. Ministros tremiam à sua passagem, mas tocavam a vida. O Congresso estava relativamente em paz — salvo uma marolinha ou outra, o que é natural. Até que...

Até que Lula se recuperou do câncer na laringe e resolveu mostrar, uma vez mais, quem é que manda de fato. Reunido há duas semanas em São Paulo com José Dirceu, Lula estava mais furioso com o noticiário político do que o seu ex-ministro da Casa Civil e coordenador da campanha que o levou, em 2002, a se eleger presidente da República pela primeira vez.

Foi durante a reunião que nasceu a ideia de se criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as bandidagens cometidas pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e quem mais tenha se relacionado com eles. Lula resgatava ali compromisso assumido com Dirceu em novembro de 2010: ao deixar o governo, batalharia para desmontar “a farsa do mensalão”.

A Polícia Federal colecionava material contra a gangue de Cachoeira desde 2009. A parte do material que envolvia Demóstenes foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Ricardo Lewandowski, indicado para relator do caso, negou-se a repassála ao Conselho de Ética do Senado, onde Demóstenes será julgado por quebra de decoro. Uma CPI tem poderes para requisitar o material.

Lula e Dirceu viram na CPI do Cachoeira a oportunidade de extrair uma série de vantagens políticas. A principal: o barulho político provocado por ela deverá impedir o julgamento do Caso Mensalão pelo STF ainda neste semestre. Se de fato o julgamento dos 38 acusados ficar para o segundo semestre, dê como certo que ele só ocorrerá no final de 2013.

Em dezembro último, o ministro Joaquim Barbosa entregou 122 páginas com um resumo do processo do mensalão ao colega Lewandowski, encarregado de revisá-lo. Sem que Lewandowski dê a revisão por terminada não haverá julgamento. Há 20 dias, em conversa com um amigo, o ministro antecipou que dificilmente concluirá seu trabalho antes do recesso da Justiça, em julho.

No segundo semestre, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá sessões diárias por conta das eleições de outubro próximo. Seis dos 11 ministros do STF fazem parte do TSE — três como titulares e três como suplentes. Estarão sobrecarregados. Cezar Peluso se aposentará compulsoriamente em 3 de setembro, ao completar 70 anos de idade. Em novembro, será a vez de Carlos Ayres Brito, presidente do STF a partir desta semana.

Digamos que Dilma leve de quatro a cinco meses para preencher as vagas de Peluso e de Ayres Brito. Nada é mais razoável que os novos ministros precisarem também de quatro a cinco meses para estudar os 233 volumes do processo e mais os 495 anexos, num total de 50.118 páginas. Calcularam? Estamos no segundo semestre do próximo ano. Alguns crimes, a depender das penas, estarão prescritos.

Lula quer a cabeça de Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás, suspeito de tenebrosas transações com Cachoeira. Em 2005, Marconi revelou que alertara Lula para o esquema do mensalão. Lula não perdoa Marconi por isso. Em troca, e sem verter uma lágrima, entregará a cabeça de Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, enrolado com Cachoeira e problemas domésticos.

Oposição ama CPIs — governos, não. O deputado ACM Neto, do DEM, desfilou sorridente no Congresso na semana passada. Media quase dois metros.

FONTE: O GLOBO

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