quinta-feira, 19 de abril de 2012

PMDB dá as cartas na CPI

Enquanto um abatido Demóstenes vagava pelo senado, o PMDB decidia: quer pôr Jucá (RR) na presidência da CPI do Cachoeira, que será instalada hoje, e escalar Eduardo Braga (AM) para defender o governo na Comissão. No PT, reinava a indefinição. Um grupo defende que a relatoria seja entregue a Vaccarezza (MG), outro prefere Odair Cunha (MG)

A cartada do PMDB

Cúpula peemedebista quer o senador Romero Jucá como presidente da CPI do Cachoeira. Já o líder do governo, Eduardo Braga, ficará com a tarefa de defender o Planalto durante as investigações. PT não se entende na escolha do relator da comissão parlamentar de inquérito

Paulo de tarso Lyra, Erich Decat

Enquanto o PMDB define sua estratégia para perturbar o governo na CPI Mista que investigará os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados, o PT não se entende sequer para escolher o relator da comissão. O PMDB deve indicar o senador Romero Jucá (RR), ex-líder do governo na Casa, para presidir a Comissão e o atual líder, Eduardo Braga (AM), para desincumbir o partido da tarefa de defender no Planalto. Já na Câmara, o clima de tensão entre as diversas correntes do PT, adormecido desde a escolha do líder da bancada em fevereiro, voltou a aflorar nos bastidores da Casa. O partido não consegue definir se o relator será Cândido Vaccarezza (PT-SP) ou Odair Cunha (PT-MG).

Jucá será o vetor político de atuação do grupo ligado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e Renan Calheiros (PMDB-AL). Particularmente, ele resiste à ideia de presidir a comissão. Mas o partido sonha com isso e, para não parecer uma afronta tão grande ao Planalto, alega que Jucá tem "bom conhecimento de leis, é estudioso e não vai se enrolar em uma CPI que pode transformar-se em guerra". E mais: os peemedebistas indicaram Eduardo Braga, justamente o substituto de Jucá, para a CPI. Como líder do governo, ele tem assento automático na comissão, mas não tem poder de voto. "Vai que alguém resolve convocar um ministro para depor? Braga só poderia discursar contra, agora ele vai também poder votar", ironizou um peemedebista.

Os demais nomes do bloco também deverão estar ligados a Renan. Dentre eles, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Ciro Nogueira (PP-PI). Não está descartada a inclusão do próprio Renan e de Eunício Oliveira (PMDB-CE). A principal resistência à composição do bloco vem do senador Roberto Requião (PMDB-PR). Dissidente do grupo de Renan, ele trabalha para garantir uma das cadeiras na CPI, o que não agrada ao Palácio do Planalto.

A estratégia do PMDB é linear, sem tergiversações em nenhuma instância partidária. Ontem, durante visita a Sarney, que se recupera de uma angioplastia e de um cateterismo em São Paulo, o vice-presidente da República, Michel Temer, concordou que a CPI tem que ser "justa, completa e sem jogadas espalhafatosas". No Senado, a tese levantada é "não politizar a comissão, atendo-se às informações contidas nos inquéritos e em seus desdobramentos".

Nas entrelinhas, significa que o partido não vai proteger ninguém que se envolva nas denúncias, independentemente se for um integrante da oposição, um aliado da presidente Dilma Rousseff ou um integrante direto do governo. Segundo afirmaram interlocutores do PMDB ao Correio, Sarney, que sempre agiu como bombeiro em crises políticas anteriores, não atuará da mesma maneira agora. "Ele está tranquilo. O Congresso instaurou a CPI arquitetada pelo ex-presidente Lula. Não era isso o que ele queria?", afirmou um aliado do presidente do Senado.

Atrito

O PMDB está uníssono, mas o PT está em descompasso. Caberá ao partido na Câmara indicar o nome que será responsável por elaborar um relatório que poderá culminar no pedido de cassação de colegas. Segundo o líder do PT na Casa, Jilmar Tatto (SP), a decisão pode sair até a próxima terça-feira, prazo definido para que os partidos indiquem os integrantes da CPI.

Um dos nomes cotados para o posto, que inclusive teria o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o de Cândido Vaccarezza (SP). "Eu não sou candidato, ficam levantando o meu nome e, se não sai, aí dizem que foi mais uma derrota minha", despistou Vaccarezza. Apesar das negativas, nos bastidores, aliados do parlamentar começam um movimento de aproximação com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, com quem manteve um relacionamento de muitos atritos quando era líder do governo.

Segundo petistas ouvidos pelo Correio, Ideli e o atual líder do governo, Arlindo Chinaglia (SP), são contra a indicação de Vaccarezza. Acham que ele, a exemplo de Jucá no Senado, guarda mágoas por ter sido afastado do cargo de líder do governo na Câmara e poderia usar a função para se vingar do Planalto. No grupo de Chinaglia, do qual fazem parte Tatto e o presidente da Câmara, Marco Maia (RS), a opção seria Odair Cunha (MG), que atuou na CPI do Mensalão e conta, atualmente, com um cargo na diretoria de Furnas — Luiz Fernando Paroli, diretor de Gestão Corporativa.

Os defensores de Vaccarezza alegam que ele levaria vantagem sobre Cunha pelo fato de ter mais "trânsito" entre os integrantes da base. Para tentar desfazer o impasse, cogitou-se uma terceira opção: o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP). Um possível entrave, no entanto, seria o fato de ele presidir a Comissão de Constituição e Justiça, o principal colegiado da Câmara. Também foi ventilado o nome do ex-líder da bancada Paulo Teixeira (SP), que nega a possibilidade de assumir o posto. "Estou em Roma para o encontro dos partidos progressistas. Estou longe dessas articulações", alegou. "Eu não sou candidato, ficam levantando o meu nome e, se não sai, aí dizem que foi mais uma derrota minha", diz Cândido Vaccarezza (PT-SP), deputado, sobre a indicação para ser o relator da CPI do Cachoeira

Dúvida

A cautela de peemedebistas e petistas para indicar os presidentes das Comissões de Constituição e Justiça do Senado e da Câmara — respectivamente Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Ricardo Berzoini (PT-SP) — tem caráter mais jurídico do que político. Não existe a certeza se questionamentos contra a CPI Mista terão que ser analisados pelas duas CCJs, o que inviabilizaria a participação dos parlamentares como integrantes da comissão e, eventualmente, juízes em caso de recurso às comissões que presidem.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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