terça-feira, 17 de abril de 2012

Pressionado, PT garante CPI

Criticado por tentar esvaziar o colegiado a pedido do Planalto, partido reforça coro pró-investigações e assume desgaste político

Paulo de Tarso Lyra, João Valadares e Karla Correia

O discurso do PT a favor da CPI mista para investigar os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira tornou irreversível a instalação da Comissão de Inquérito no Congresso. O líder do partido no Senado, Walter Pinheiro (BA), marcou reunião para o meio-dia de hoje na qual escolherá o nome dos senadores para a comissão. Na Câmara, o líder Jilmar Tatto (SP), negou que o risco de envolver o governo nas investigações seja suficiente para fazer o PT recuar. "Pode haver alguma preocupação de desgaste com o governo, mas temos que lembrar que essa não é uma CPI contra o governo", justificou Tatto.

A movimentação do PT deixou os demais partidos e a oposição em situação confortável. O Correio apurou que nenhuma legenda tem interesses reais na CPI, mas ninguém está disposto a recuar da bandeira levantada pelos petistas. Se as investigações chegarem no Planalto, a culpa seria do PT, não dos aliados. É a desculpa que os integrantes da base esperavam para vingar-se do partido da presidente. "O PMDB não propôs nada nem vai despropor. A ideia da CPI foi do PT, quem pariu Mateus que o embale", disse um interlocutor do partido.

A vice-presidente do Congresso, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), confirmou ontem que, assim que tiver em mãos as assinaturas suficientes para a instalação da CPI — 27 senadores e 171 deputados — ela será criada. "É o que me cabe de acordo com o regimento do Congresso", afirmou ela, que exerce a Presidência do parlamento em função da internação do presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), por problemas cardíacos.

O governo, que nos últimos dias tentou influenciar os movimentos políticos no Congresso, conforme relatos de integrantes da oposição, busca agora controlar os trabalhos negociando a indicação dos membros da CPI. O receio é de que as investigações aprofundem as relações da Construtora Delta com o governo federal. A empresa é uma das principais construtoras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Essa tal de Delta é igual a farinha. Está em todo pirão. É parte indispensável do pirão. Por isso, há um temor grande do governo em relação à investigação dos contratos da Delta", ironizou o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP).

Ato de instalação

A terça-feira promete ser quente no Congresso. Às 8h30, os líderes da base aliada têm reunião marcada com o representante do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). O PT reúne-se ao meio-dia. Às 15h, deputados e senadores da oposição convocaram um ato para assinar em conjunto o pedido de instalação da CPI. Se as assinaturas forem obtidas, inicia-se o prazo até a meia-noite para eventuais desistências. Caso contrário, os nomes serão indicados já nesta quarta. "Vai ser uma guerra", prevê um líder governista.

Para aproveitar a brecha e fustigar ainda mais o Executivo, o PSDB do Senado tentará ceder uma de suas vagas para o PSol que, em tese, não tem assento na Comissão. O partido sugeriu ao PT que ampliasse o número de vagas de 15 para 17. "Recebi como resposta um redondo não. Não sei qual é a dificuldade." O PSDB tentará resolver essa questão. "Existe uma clara preocupação do governo com essa CPI, mas ela é inevitável e irreversível. Se houve erro de avaliação dos governistas, é muito tarde para a reparação", afirmou o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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