sexta-feira, 13 de abril de 2012

Voluntarismo financeiro:: Celso Ming

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou nesta quinta-feira que o governo pode endurecer seu jogo com os senhores do dinheiro. Desta vez, expôs seu descontentamento com a falta de determinação dos banqueiros em derrubar o spread (diferença entre o que pagam pelos recursos e o que cobram nos empréstimos).

Por disposição de ofício, banqueiro não gosta de parecer brigão. Prefere trabalhar na moita, passando a impressão de que está de bem com todos, mesmo quando o governo Dilma dá sinais de que se prepara para entrar em rota de colisão com o setor. Para o governo, banqueiros estão na contramão em dois objetivos de política econômica.

O primeiro deles é a repentina redução de interesse dos bancos privados em ampliar operações de crédito, justamente num momento em que a atividade econômica ficou mais fraca. Ou seja, para o governo, os bancos não colaboram na execução de uma política anticíclica.

Os bancos privados se mostram menos interessados na expansão do crédito até mesmo nos segmentos em que as garantias são de melhor qualidade, como o do financiamento de veículos, na medida em que conta com a proteção proporcionada pelo estatuto da reserva de domínio. (Se deixa de pagar suas prestações, o credor tem de entregar seu veículo ao banco, um processo relativamente rápido.)

Entendem que, depois da rápida escalada que durou dez anos, em que avançou de 26,8% para 48,8% do PIB, o mercado de crédito se estreitou. Esse estrangulamento pode ser aferido hoje pelo aumento dos índices de inadimplência – de 5,8%, no início de 2011, para os atuais 7,6%. Entre perder mercado e perder rentabilidade, os bancos preferem perder mercado. Por isso, parecem menos propensos a atender o governo nesse quesito.

A segunda fonte de descontentamento do governo Dilma com os bancos é um problema crônico: são os juros escorchantes cobrados no crédito, que conspiram contra o interesse do governo de derrubar os juros e os custos de produção da economia.

Para atacar essas duas fontes de descontentamento, o governo mobilizou os bancos oficiais, hoje com cerca de 44% do mercado nacional de crédito. Quer que Banco do Brasil e Caixa Econômica atuem mais agressivamente no crédito, seja expandindo suas operações, seja derrubando os juros cobrados dos tomadores.

A decisão de chamar para a briga demonstra certa fraqueza do governo. Sempre que apela para o voluntarismo ou para falsas quedas de braço, produz mais espuma que substância. É preciso, também, atacar as condições técnicas que mantêm os spreads bancários na altura em que estão.

Por outro lado, acionar os bancos oficiais para tentar acirrar a concorrência num setor que opera com altos níveis de cartelização leva o risco de criar distorções. Quando criou e depois manteve a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) a juros artificialmente baixos, o governo montou o monopólio do BNDES regado com recursos (fundings) oficiais e matou o mercado de financiamento de longo prazo (exceto pelo crédito habitacional).

E é esse o risco que correm os segmentos de crédito de curto prazo.

CONFIRA

Falta de resposta. Também nos Estados Unidos o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vem emitindo dólares com o objetivo de desobstruir o crédito sem, no entanto, obter grande sucesso.

Desinteresse. Na crise, os bancos temem expandir suas operações de crédito com medo da incapacidade dos clientes de honrar o pagamento da dívida. Os consumidores, por sua vez, relutam em tomar mais crédito, porque já estão excessivamente endividados e também assustados com o risco de perder o emprego. E as empresas também se afastam do crédito, porque o desemprego alto aponta para consumo mais fraco.

Atraso. Isso significa que já não basta uma enorme oferta de recursos para que o crédito imediatamente responda. Isso sugere que, em época de crise, mesmo uma política monetária expansionista opera com atraso maior do que em tempos normais. É o que o Banco Central do Brasil já vinha dizendo em seus documentos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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