quarta-feira, 16 de maio de 2012

Adeus, lucro

Crise apaga ganho anual na Bovespa, que chegou a acumular 20% em março. Dólar fecha a R$ 2

Bruno Villas Bôas

O futuro incerto da Grécia, que convocou ontem novas eleições parlamentares para 17 de junho deste ano, elevou os temores dos mercados financeiros sobre a saída do país da zona do euro e provocou um efeito contágio sobre outras economias da região. Num dia de nervosismo global, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 2,26%, aos 56.237 pontos pelo Ibovespa, seu principal índice de ações. Foi a sexta queda seguida da Bolsa, a maior sequência de baixas desde julho do ano passado. E com o novo tombo, o mercado brasileiro passou a registrar, pela primeira vez, uma perda no desempenho acumulado do ano, de 0,91%. Ou seja, os ganhos dos investidores no ano até meados de março, que chegaram a 20,5%, foram completamente apagados, evaporaram.

Em meio à fuga de investidores temerosos com a crise na Grécia, o dólar comercial fechou cotado acima de R$ 2 pela primeira vez em quase três anos. Após uma queda de braço entre operadores nos fim do pregão, a moeda americana fechou a R$ 2,002, uma alta de 0,60%, superando a importante barreira de preço. Segundo analistas, o cenário externo voltou a ser predominante para a alta do câmbio, mas o interesse do governo em valorizá-la segue influenciando operações no mercado.

Desde março, perdas de R$ 665 bi

De acordo com analistas, o nervosismo dos investidores provocou ontem a forte instabilidade na Bolsa desde a abertura dos negócios. Pela manhã, o índice chegou a avançar 0,79%, próximo dos 58 mil pontos, após o Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha crescer 0,5% nos primeiros três meses do ano e impedir que a zona do euro entrasse em recessão. Mas o alívio foi momentâneo.

- Durou pouco porque o primeiro trimestre já passou, e a perspectiva agora é de baixo crescimento para frente, seja na Europa, China e EUA. Isso está sendo colocado no preço das ações e provocando fortes perdas. E a Grécia tem um papel importante nessa história - disse Rogério Freitas, sócio e gestor do fundo da Teórica Investimentos.

Ontem, os mercados europeus voltaram a registrar perdas, com destaque para a Bolsa de Milão, que recuou 2,56%. Também fecharam em baixa as Bolsa de Londres (0,51%), Paris (0,61%), Frankfurt (0,79%) e Madri (1,60%). O setor bancário liderou as quedas.

- A Grécia voltou a preocupar. Mas o mercado brasileiro caiu mais do que o europeu. O clima aqui está mais pesado por causa dos resultados das empresas, principalmente do setor de construção - afirma Gustavo Mendonça, da Oren Investimentos.

Após a forte queda das ações da Brookfield, na segunda-feira passada, ontem foi a vez de o mercado punir as ações da MRV e PDG Realty, que divulgarem fracos resultados na noite de segunda-feira. Os papéis ONs da MRV tombaram 15,05%, a R$9,43, e da PDG 9,83%, a R$ 3,67.

Com o tombo da Bolsa ontem, uma fortuna de R$ 665 bilhões foi queimada no mercado financeiro brasileiro desde 13 de março, quando o Ibovespa registrou sua pontuação máxima no ano. Entre janeiro e março, o mercado tinha apresentado uma rápida recuperação por causa do clima melhor sobre a crise da Europa, a recuperação dos Estados Unidos e o corte dos juros no Brasil.

Em Wall Street, os mercados conseguiram evitar perdas maiores graças a indicadores econômicos positivos. Os estoques das indústrias nos EUA subiram 0,3% em março, segundo dados do Departamento do Comércio americano. O dado veio acima do esperado por analistas, sinalizando melhores vendas. Assim, o Dow Jones recuou 0,50% e o Nasdaq, 0,30%.

No dólar, mercado testa limite do BC

Logo após a abertura dos mercados, pela manhã o dólar chegou a recuar 0,35%, a R$ 1,983, refletindo dados melhores que o esperado na Alemanha e zona do euro. Mas o movimento durou 20 minutos. No fim da manhã, a moeda chegou a ser negociada a R$ 2,005, nova máxima dentro de um pregão.

Segundo operadores, declarações da presidente Dilma Rousseff contribuíram para operações mais arrojadas no mercado ontem, que permitiram a moeda fechar acima de R$ 2. Durante evento em Brasília, Dilma citou, entre os desafios macroeconômicos brasileiros a "taxa de câmbio extremamente sobrevalorizadas".

Desta vez, contudo, a alta do dólar frente ao real foi mais modesta do que em outros países. O dólar avançou mais frente ao peso mexicano (0,74%) e ao euro (0,74%), por exemplo.

- Tem sido recorrente a valorização mais forte do câmbio perto do fechamento do mercado. O mercado vê agora na compra do dólar uma oportunidade de ganho, como viu no passado oportunidade de venda. E, de grão em grão, galinha enche o papo -afirma Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez.

Para analistas, além de quebrar uma barreira importante do câmbio a R$ 2, o mercado começa a "peitar" o Banco Central (BC) para intervir no mercado com a venda de dólares.

Segundo João Ferreira, da corretora Futura, os principais afetados têm sido exportadores brasileiros - que deveriam ser um dos principais beneficiários da alta da moeda - porque têm posições de proteção (hedge) no mercado futuro.

- Venderam dólares a R$ 1,85 no mercado futuro e estão perdendo dinheiro, principalmente exportadores de soja e algodão. Em tese, essas perdas serão recuperadas na venda da safra, lá na frente. Mas, até lá, vão sofrer com os ajustes diários dos contratos.

FONTE: O GLOBO

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