quinta-feira, 31 de maio de 2012

Bombeiros abafam crise com o STF

No STF, no governo e na base, o dia ontem foi de colocar panos quentes na crise provocada pelas declarações de Gilmar Mendes sobre Lula. No Supremo, o presidente Ayres Britto minimizou o episódio, enquanto governistas evitaram responder às críticas da oposição. Até mesmo Lula preferiu não citar o caso, mas reclamou: "Tem pessoas que não gostam de mim."

Após desgaste, STF tenta manter normalidade

Presidente da Corte diz que conflito de versões entre Lula e Gilmar não interfere e que julgamento do mensalão será técnico

André de Souza

BRASÍLIA. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se esforçaram ontem para passar uma imagem de normalidade, numa tentativa de diminuir o desgaste provocado pelo embate entre o ministro Gilmar Mendes e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo relato de Gilmar, Lula o procurou e sugeriu que poderia protegê-lo das investigações da CPI do Cachoeira. Em troca, Gilmar Mendes ajudaria a adiar o julgamento do mensalão para o ano que vem.

Segundo o presidente do STF, ministro Ayres Britto, o episódio não provoca crise institucional.

- Aqui ninguém está abalado com isso, no sentido de predisposição seja para condenar ou absolver. Isso não interfere no nosso dever de julgar tecnicamente essa causa.

Já o ministro Marco Aurélio Mello defendeu tanto Lula como Gilmar Mendes. Segundo ele, a preocupação de Lula em torno do mensalão é compreensível. Também disse que Gilmar Mendes não precisa de proteção, uma vez que ele não está sendo investigado pela comissão.

- Ele (Lula) está integrado a um partido. Há quem diga que ele é o partido. E há pessoas do partido acusadas. Então é natural que ele leve seu ponto de vista (...) o ministro não precisa ser protegido. Ele não está sendo investigado.

Gilmar Mendes, que deu várias declarações a respeito do assunto nos últimos dias, preferiu não falar a respeito ao entrar no Supremo ontem. Já Ayres Britto disse que o STF não vai fazer uma defesa pública de Gilmar:

- O ministro Gilmar não pediu absolutamente nada para que o tribunal se manifestasse ou coisa que o valha. Ninguém tomou essa iniciativa porque entendeu que não há gravidade suficiente para isso. Começamos a sessão do jeito mais natural possível.

Ayres Britto confirmou que se encontrou na noite de terça com o ministro Gilmar Mendes. Mas negou que tenham falado a respeito da conversa que ele teria travado com Lula.

- Tomei um café, bati um papo com ele. Simplesmente troquei umas ideias. Não fui lá para me solidarizar. Não fui lá para recriminar, que não me cabia menos ainda. Nada institucional. Fui lá, cumprimentei.

Ele negou ainda que, no encontro que teve na terça-feira com a presidente Dilma Rousseff, tenha discutido o episódio. Segundo Ayres Britto, falaram sobre assuntos dos poderes Executivo e Judiciário, em especial a Rio+20. Questionado sobre as declarações de Gilmar Mendes, Ayres Britto respondeu:

- Não me cabe opinar sobre isso. O ministro Gilmar vê as coisas por esse prisma. Certamente ele tomará as providências necessárias ou compatíveis com o quadro que ele mesmo traçou.

Também ontem, o PSOL protocolou na Procuradoria Geral da República uma representação contra Gilmar Mendes. Eles questionam o motivo pelo qual o ministro só tornou pública agora a suposta conversa com Lula - um mês depois de ter ocorrido.

FONTE: O GLOBO

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