segunda-feira, 14 de maio de 2012

Campos reconcilia-se com Jarbas depois de 20 anos e lança pontes com o PMDB

Murillo Camarotto

RECIFE - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), entregou na semana passada a Medalha da Ordem do Mérito Guararapes - maior comenda do Estado - a integrantes do secretariado de seu antecessor, o hoje senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Apesar de a premiação ter sido definida ainda na gestão anterior, a solenidade serviu para evidenciar o processo de reconciliação entre os dois principais líderes políticos de Pernambuco, que romperam relações há quase 20 anos. No comunicado distribuído à imprensa após o evento, o governo estadual já tratava os premiados como "ex-adversários políticos".

Impensável depois da tensa disputa eleitoral de 2010, vencida com facilidade por Campos, a reconciliação põe abaixo o último obstáculo à completa hegemonia de Eduardo Campos na política pernambucana. Esvaziada pelo governador, a oposição tinha em Jarbas o único líder relevante e, agora, tende a desaparecer. Há, no entanto, quem acredite que o movimento faça parte de uma estratégia de fortalecimento de Campos visando um futuro rompimento com o PT, tido como inevitável para o êxito dos planos nacionais do governador.

Segundo uma fonte próxima a Jarbas, a reconciliação com Campos foi patrocinada pelos empresários Paulo Sergio Macedo e Roberto Viana. O primeiro é sócio do Banco Gerador e acertou recentemente a venda de sua empresa de segurança patrimonial, a Nordeste Seguros, para a espanhola Prosegur, por R$ 825 milhões. Já Viana investe milhões de reais na exploração de gás em diversas regiões do país.

Os dois teriam promovido um encontro entre Jarbas e Campos em uma praia do litoral sul de Pernambuco. Eles estavam rompidos desde 1992, quando o senador, então candidato a prefeito do Recife, recusou-se a aceitar o atual governador como vice em sua chapa. Desde então, se tornaram desafetos notórios.

Antes de condecorar os aliados de Jarbas, o governador já vinha acenando para setores ligados ao senador pemedebista que, no final do ano passado, fez um dos mais ácidos discursos, na tribuna do Senado, contra a indicação da mãe do governador, a deputada Ana Arraes (PSB-PE) para o cargo de ministra do Tribunal de Contas da União.

No ano passado, Campos ofereceu um jantar ao ex-prefeito do Recife Roberto Magalhães (DEM) no Palácio do Campo das Princesas, sede do Executivo estadual. Mais recentemente, o ex-governador Gustavo Krause (DEM), em evento na Associação Comercial de São Paulo, foi pródigo em elogios a Campos.

Desde que assumiu o Palácio do Campo das Princesas, em janeiro de 2007, o governador trouxe para seu grupo muitos nomes ligados ao que ficou conhecido como direita pernambucana, casos do ex-governador Joaquim Francisco (hoje no PSB), do deputado federal Inocêncio Oliveira (PR) e do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP), entre outros nomes. Paralelamente, ele se mantém bastante próximo ao PT, que comanda secretarias importantes em sua gestão e terá o candidato à Prefeitura do Recife apoiado - não se sabe com quanto empenho - pelo governador.

A boa relação com todas as vertentes políticas é peça fundamental na estratégia do governador de Pernambuco de se tornar um político de envergadura nacional. "A primeira é o reconhecimento de gestor eficiente, o que ele já vem conseguindo. A outra é ampliar o espectro partidário, como ele fez com sua atuação na criação do PSD, um partido que pode absorver uma boa fatia das tendências conservadoras", afirmou um observador que preferiu não ter seu nome publicado. "Não há dúvidas de que se trata de um projeto não ideologizado", classificou.

Para Jarbas, que aos 70 anos de idade já vem considerando a aposentadoria da política, a aproximação com Campos chega para ampliar o espaço político de seus herdeiros. Neste ano, o filho do senador, conhecido como "Jarbinhas", vai disputar pelo PMDB uma vaga na Câmara de Vereadores do Recife, enquanto que o deputado federal Raul Henry (PMDB) tentará pela segunda vez a prefeitura da capital pernambucana. "O senador avaliou que a manutenção deste embate [com Eduardo Campos} poderia prejudicar o avanço dessas candidaturas", disse uma fonte ligada a Jarbas.

A reconciliação com o PMDB também proporciona a Campos a possibilidade de uma interlocução produtiva com a prefeitura do Recife em caso de derrota do PT, que se digladia internamente para definir quem será o candidato do partido. O atual prefeito, João da Costa (PT), luta pelo direito de concorrer à reeleição, mas é bombardeado pelos principais líderes petistas do Estado, que querem no cargo o deputado federal Maurício Rands. Com o partido sangrando publicamente há vários meses, crescem as possibilidades de êxito da oposição, que tem em Henry um dos candidatos com maior potencial de votos.

Ainda assim, a reaproximação entre os grupos de Jarbas e Campos não deve se refletir em aliança política para as eleições deste ano. A hipótese, contudo, não é descartada para o pleito de 2014, garantem os dois lados. Após a definição dos prefeitos e vereadores e a largada para a corrida estadual de 2014, a tendência é de que haja divisões no grupo político liderado por Eduardo Campos, motivo pelo qual a atração do PMDB pode ser importante.

A saída mais provável é a do PTB do senador Armando Monteiro Neto, que já articula sua candidatura ao governo de Pernambuco em viagens pelo Estado. No Palácio das Princesas, a expectativa predominante é de que o PT também terá candidato próprio, o que reduzirá drasticamente as chances de manutenção da aliança com o PSB - já bastante tumultuada.

Em entrevista à "Folha de S. Paulo", em março, Jarbas Vasconcelos afirmou que o projeto nacional de Campos passa, obrigatoriamente, por uma desvinculação da imagem do governador com a do PT. Isso não significa, segundo o pemedebista, qualquer rompimento com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Campos tem interlocução privilegiada. A tese do senador - agora ex-inimigo - é confirmada sem muitas ressalvas na alta cúpula do governo de Pernambuco, em um sinal de que as opiniões e planos estão, de fato, convergindo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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