segunda-feira, 7 de maio de 2012

A CPI vai ou não vai?

Faltando menos de um mês para o início oficial da campanha eleitoral, parlamentares temem que as eleições municipais esvaziem as investigações no Congresso

Eleições ameaçam trabalho da CPI

A dois meses do início oficial do pleito, parlamentares já temem que a preocupaçãocom as disputas municipais esvazie a comissão responsável por investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos

Gabriel Mascarenhas

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira tem no calendário um risco em potencial de não chegar a lugar algum, caso essa seja a intenção dos parlamentares que compõem o colegiado, instaurado para investigar as relações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e representantes de grandes empresas. No Congresso, deputados e senadores já demonstram preocupação com a proximidade das eleições municipais deste ano, em outubro, que podem servir como instrumento para frear os esforços da comissão para concluir as investigações. As apurações só devem terminar no começo de novembro.

Embora a largada da corrida por votos comece em 5 de julho, data de início oficial da campanha, tradicionalmente, os partidos começam o movimento eleitoral já em meados de maio, mês em que estão previstos os comparecimentos ao parlamento de personagens-chave da CPI, como Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

Assinada por parlamentares governistas e da oposição, a CPI surge como risco iminente às pretensões eleitorais de todas as legendas, dada a imprevisibilidade dos rumos que ela tomará desta semana em diante, quando a investigação ganhará musculatura a partir da convocação dos principais suspeitos e da análise dos inquéritos originários das operações Vegas e Monte Carlo, ambas da Polícia Federal. E a prova real das urnas, historicamente, expõe a rejeição do eleitorado a candidatos cujos nomes tenham constado na lista de suspeitos em escândalos nacionais.

De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), nas eleições de 2006, dos 92 parlamentares acusados de envolvimento com os esquemas do mensalão (em 2005) e da máfia dos sanguessugas (2006), 70 se lançaram candidatos, mas apenas 13 deles foram eleitos.

Parlamentares da oposição acusam a base aliada de começar a CPI direcionando a apuração de acordo com os interesses do Palácio do Planalto e afirmam que o período eleitoral vai coincidir com o sepultamento dos trabalhos da comissão.

"O plano de trabalho apresentado pelo relator da CPI (deputado Odair Cunha, do PT-MG) já sugere isso. O cronograma prevê uma redução do pique da comissão no período eleitoral. Nossa ideia é lutar contra isso, fazendo com que os trabalhos corram para valer, independentemente das eleições, que interessam prioritariamente aos grandes partidos, PT, PSDB e PMDB", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), que pretende apresentar um requerimento pedindo que as sessões de segundas e sextas-feiras sejam transformadas em deliberativas, em que são votadas as matérias legislativas. Hoje, pelo regimento, elas ocorrem das terças às quintas-feiras.

Álibi

Deputado federal do PSDB e presidente nacional da sigla, Sérgio Guerra (PE), principal crítico à condução dos trabalhos por parte do relator e do presidente do colegiado — ambos da base aliada — enxerga no período eleitoral o álibi necessário à redução do ritmo das investigações. "Para que se mantenha até o fim, a CPI precisará ter procedimentos investigativos mais sérios do que os que foram apresentados, que regionalizam a investigação na direção de governos da oposição. Não sei se há vontade política para levá-la adiante, e o calendário eleitoral aparece como um instrumento eficiente para o esfriamento da apuração", disparou Guerra.

Ao ser escolhido, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), afirmou que ia sugerir à comissão apreciar a possibilidade de cancelar o recesso parlamentar deste ano para tirar do caminho outro obstáculo imposto pelo calendário à eficiência das investigações: a paralisação das atividades parlamentares entre 17 e 31 de julho. Há colegas de Vital do Rêgo favoráveis à ideia.

O argumento da base aliada para sustentar que a CPI atravessará o período eleitoral sem perder força está na indicação dos parlamentares que compõem o colegiado. As lideranças partidárias acertaram, antes da instauração da comissão, que indicariam somente quem não fosse pré-candidato a cargo eletivo este ano. "Não há risco de a coisa esfriar. A CPI tem 180 dias para apresentar o relatório final e já começa com material de sobra. Já há uma organização criminosa identificada, oitivas agendadas e quebras de sigilos previstos", elencou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Jogatina

Deflagrada pela Polícia Federal em 29 de fevereiro, a Operação Monte Carlo desbaratou a principal quadrilha de exploração de jogos ilegais em Goiás, comandada por Cachoeira. Os agentes da PF descobriram que a rede de atuação do contraventor ia muito além da jogatina. O bicheiro mantinha relações e livre acesso a políticos e grandes empresários, dentro e fora de Goiás, especialmente o senador Demóstenes Torres, com quem mantinha relações próximas.

Escândalos

92 parlamentares foram acusados de envolvimento com o mensalão e os sanguessugas

70 se lançaram candidatos, mas só 13 foram eleitos

"Não sei se há vontade política para levá-la adiante, e o calendário eleitoral aparece como um instrumento eficiente para o esfriamento da apuração" Sérgio Guerra, deputado do PSDB-PE

"Não há risco de a coisa esfriar. A CPI tem 180 dias para apresentar o relatório final e já começa com material de sobra. Já há uma organização criminosa identificada" Cândido Vaccarezza, deputado do PT-SP

Fonte Correio Braziliense

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