segunda-feira, 28 de maio de 2012

CPI vota amanhã quebra de sigilo da Delta

Oposição quer interpelar Lula sobre diálogo com Gilmar Mendes, ministro do STF

A CPI que investiga o escândalo Cachoeira vota amanhã requerimento de quebra de sigilo da matriz da Delta Construções, empreiteira investigada por corrupção. Parlamentares querem acesso à movimentação financeira para comprovar propinas. A CPI também decidirá se convoca os governadores Marconi Perillo, Agnello Queiroz e Sérgio Cabral. PSDB e DEM estudam medidas para cobrar explicações de Lula, que teria pressionado o ministro Gilmar Mendes, do STF, para adiar o julgamento do mensalão. JORGE BASTOS MORENO revela detalhes do encontro.

CPI votará quebra de sigilo da Delta amanhã

No mesmo dia, convocação de governadores será analisada e Demóstenes vai depor no Conselho de Ética do Senado

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. As investigações sobre a conexão da construtora Delta com o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira devem avançar ao longo desta semana. Amanhã, a CPI deve votar a quebra dos sigilos da matriz da empreiteira e analisar a convocação dos governadores Marconi Perillo, Agnello Queiroz e Sérgio Cabral. Quase ao mesmo tempo, o Conselho de Ética do Senado ouvirá o senador Demóstenes Torres no processo que responde por quebra de decoro parlamentar. Na quinta, o senador volta a depôr, desta vez na CPI. A Justiça de Goiás deverá ouvir os réus do caso, inclusive Cachoeira.

Apesar dos diversos depoimentos, boa parte dos parlamentares acredita que as informações efetivamente relevantes para a CPI virão de documentos. A expectativa é que todos os réus no processo façam como Carlinhos Cachoeira, valendo-se do direito de ficar calados. Assim, o cruzamento das informações já recebidas é tido como o eixo central da apuração.

- Temos que trabalhar com prova técnica. O alvo agora é a Delta. O dinheiro que saía em espécie das contas necessariamente era para propina. É coisa de pouco tempo para chegar aos indícios de quem o recebeu - disse o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

O parlamentar reclama da falta de acesso ao cruzamentos de dados da construtora. O cotejamento está sendo feito pela área técnica do Senado, mas ainda não foi disponibilizado aos integrantes da CPI:

- Há dez dias eles nos prometeram uma chave para acessar essas informações, mas ainda não entregaram. Isso é grave. Precisamos bater a data dos saques em espécie com as datas dos pagamentos de governos por obras da Delta. Isso é fundamental - diz Miro.

O que parece inevitável é que a CPI quebre o sigilo da matriz da Delta Construções. O requerimento está pronto para ser votado amanhã, junto com os pedidos de convocação dos três governadores. Marconi Perillo e Agnello Queiroz são citados nas investigações e Sérgio Cabral é amigo do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish. Até a semana passada, a blindagem de aliados impediu que qualquer pedido de convocação fosse votado, mas a situação se agravou especialmente para o governador de Goiás, que teve sua versão para a venda de uma casa a Cachoeira posta em dúvida por um dos depoente.

O ponto alto do dia será o depoimento de Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado. Quase três meses depois do fatídico pronunciamento em que senador disse ter recebido de Cachoeira apenas um fogão e uma geladeira, a expectativa é que o parlamentar enfim apresente uma longa defesa sobre o caso. Desde que O GLOBO revelou a atuação do senador na promoção de negócios do bicheiro, Demóstenes calou-se prometendo apresentar a defesa no Conselho.

Apesar da grande expectativa, os parlamentares são céticos quanto à possibilidade de Demóstenes de fato apresentar argumentos sólidos que o inocentem. A tendência é francamente favorável à condenação dele no Conselho, onde o voto é aberto. Até por isso, o senador tem atuado para convencer os pares a absolvê-lo no plenário do Senado, onde o voto é secreto.

Na quinta-feira, Demóstenes será ouvido pela CPI do Cachoeira, mas poderá ficar calado, pois está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal e sua tese de defesa é de que os grampos que o relacionam ao bicheiro foram obtido de forma ilegal. Na quarta-feira serão ouvidos Gleyb Ferreira da Cruz e Lenine Araújo de Souza, braços direitos do bicheiro; o diretor da Delta Cláudio Abreu; o bicheiro José Olímpio de Queiroga Neto; e o presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Eduardo Rincón, citado por integrantes da quadrilha de Cachoeira em grampos feitos pela Polícia Federal.

FONTE: O GLOBO

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