sábado, 5 de maio de 2012

Crise na Grécia fortalece partido neonazista

Movimento, que usa a saudação nazista e propõe a expulsão dos imigrantes, deve ganhar cadeiras no Parlamento nas eleições gerais de amanhã

Jamil Chade

GENEBRA - A Europa descobre o outro lado do desespero, caos e falência da Grécia: o fortalecimento do extremismo e de um partido neonazista que faz o continente relembrar um dos momentos mais sinistros de sua história. O partido Chryssi Avgi (Aurora Dourada) espera conquistar entre 5% e 8% dos votos nas eleições legislativas na Grécia de amanhã.

Líderes gregos e europeus, por sua vez, apelam à população para que evite o partido que propõe a volta dos campos de trabalho forçado, a colocação de minas nas fronteiras e a exclusão de estrangeiros dos hospitais.

Amanhã, a Grécia vai às urnas para o que muitos já chamam de a eleição mais importante na história democrática do país, que atravessa seu quinto ano de recessão e já teve de ser resgatado em duas ocasiões em apenas dois anos. Juntamente com o dinheiro, foram feitas exigências do FMI e da União Europeia de uma reforma e cortes de gastos que fizeram o país parar.

Ainda que o grupo neonazista ainda não seja uma realidade no Parlamento, já é nas ruas de Atenas, num sinal da reação à crise. O bloco conta com voluntários que patrulham os bairros da capital, exigindo ver a identidade de moradores. Na maioria dos casos são jovens de cabeça raspada e vestidos de negro. Saem em busca de imigrantes que eles acusam de serem culpados pelo desemprego recorde de 21%. Não são poucos os incidentes em que estrangeiros são espancados, com os mastros de bandeiras gregas, ou praças que ganham pichações.

E não é apenas a ira contra os imigrantes que tem levado o grupo a ganhar popularidade. A frustração com partidos tradicionais e o desemprego de 51% entre jovens vêm levando parte do eleitorado a buscar alternativas.

Em 2009, nas eleições legislativas vencidas pelos socialistas, o partido neonazista obteve apenas 20 mil votos, 0,2% da preferência. Em 2010, em plena crise, um primeiro deputado do movimento foi eleito em Atenas. Amanhã, o partido que usa uma suástica adaptada como símbolo e não hesita em fazer a saudação nazista nos comícios deverá ganhar votos suficientes para entrar no Parlamento. Para isso, deve obter os votos de 3% do eleitorado - que lhes daria 10 deputados. Somados, os três partidos de extrema direita poderão ter um quinto dos votos dos gregos.

Tanto os conservadores do partido Nova Democracia quanto os socialistas do Pasok têm apelado aos eleitores que abandonem o movimento fascista, alertando que uma votação expressiva do grupo criaria mais problemas para o país. Nenhum dos dois partidos tradicionais deve obter uma maioria. Eles serão forçados a formar uma aliança.

Um dos candidatos mais populares do grupo neonazista é Elias Panayiotaros, dono de uma loja de artigos militares, que não disfarça sua admiração pelo regime dos coronéis, que governou a Grécia entre 1967 e 1974. Seu plano de governo é simples: em tempos de crise, a prioridade é a expulsão de imigrantes.

Segundo ele, o custo do projeto de expulsar um milhão de pessoas da Grécia seria equilibrado com o fato de que muitos deles seriam forçados a ingressar em campos de trabalho, antes da expulsão. Quem não aceitar trabalhar não receberia alimentos. No campo econômico, o partido defende que empregos sejam reservados apenas para os gregos e todas as dívidas externas seriam alvo de um calote.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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