segunda-feira, 21 de maio de 2012

Delta gere contratos de lixo em 12 cidades e no DF

Raphael Di Cunto

SÃO PAULO - No fim de 2004, decreto do prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito (PP), rescindiu contrato com a Locanty para coleta de lixo e limpeza urbana da cidade. Ao assumir, seu sucessor, Washington Reis (PMDB), assinou contrato emergencial com uma empresa que havia lhe doado R$ 12 mil para a campanha e que não tinha nenhuma experiência prévia nesse tipo de serviço: a Delta Construções.

Sete anos depois, a Delta virou uma das maiores do setor. Este ano, os contratos em que a empresa gere ou participa movimentariam R$ 700 milhões, segundo levantamento do Valor com o mercado e as prefeituras. No ano passado, quando parte dos serviços ainda não estava em execução, a Delta teve faturamento total de R$ 2,7 bilhões, de acordo com o balanço da companhia.

A empresa, que é investigada por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito no Congresso pelas relações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e corre risco de perder os contratos, hoje executa limpeza urbana ou coleta de lixo em São Paulo, Rio, Campinas, Distrito Federal, Cuiabá, Palmas, Porto Alegre, Piracicaba, Anápolis (GO), Itanhaém (SP), Nova Iguaçu (RJ) e Catalão (GO) e administra o aterro de Goiânia.

A qualidade dos serviços, alvo de reclamações na maioria das cidades em que a Delta passou, não impediu a empresa de crescer no setor, conhecido pela difícil fiscalização e por irrigar campanhas políticas. "Em pouco tempo, a Delta se tornou um dos principais players, à frente de empresas tradicionais", afirma fonte que trabalhou com serviços urbanos em várias prefeituras.

Depois de Duque de Caxias - cidade que abandonou no começo de 2012, ao ser contratada emergencialmente pela vizinha Nova Iguaçu -, venceu licitação para coleta de lixo em Palmas por R$ 14 milhões. Mais do que o dinheiro, o contrato rendeu à empresa certificado, considerado falso pela Polícia Federal, que a habilitava a disputar contratos em grandes cidades (leia ao lado).

No fim de 2006, venceu o primeiro grande contrato, como integrante do Consórcio Tecam, em Campinas (SP), e no ano seguinte ganhou outro de R$ 23 milhões, sem licitação, no governo do Distrito Federal, na época controlado pelo ex-DEM José Roberto Arruda, que renunciou ao mandato para não ser cassado.

Em São Paulo, a companhia ficou em terceiro na disputa pela varrição, mas venceu ao barrar judicialmente a primeira colocada e a segunda desistir - a empresa queria a correção do valor pela inflação, mas a prefeitura se disse legalmente impedida de aumentar o valor da proposta.

Ganhou a Delta, que recebeu do prefeito Gilberto Kassab (PSD) R$ 147,8 milhões, segundo levantamento do PT na Câmara Municipal.

O grande salto, porém, ocorreu em 2011, quando o Consórcio Soma, liderado pela Delta e formado pela Cavo e Corpus, venceu a licitação para a limpeza urbana de toda a região sudeste da cidade de São Paulo, num megacontrato que unificou limpeza das bocas de lobo e ecopontos, varrição de vias públicas e manutenção das lixeiras, eliminando pequenas e médias empresas.

A concorrência é questionada na Justiça por uma das excluídas, a TCM Transporte e Coleta de Resíduos. A companhia alega cerceamento da concorrência e diz que o Soma não comprovou capacidade técnica.

"Há atestados falsos de programas de educação ambiental que a Delta diz ter executado em Itanhaém e Poá, mas que não constam dos contratos nem ordens de pagamento das prefeituras", afirma Helen Alves, advogada da TCM, que pede a rescisão do contrato de R$ 1,04 bilhão. O Ministério Público investiga.

A Prefeitura de São Paulo disse, em nota, que colabora com a apuração e nega favorecimento. "A documentação entregue por todas as concorrentes era legível e estava autenticada", afirma. As prefeituras de Poá e Itanhaém não responderam.

A J&F Holding, que assumiu o controle da Delta, informou que faz auditoria e não comentará os contratos da gestão anterior. A nova controladora, porém, indica que deve manter a expansão no setor, ao escolher como presidente Humberto Junqueira Farias, que comandou a Cavo, tradicional no ramo do lixo, de 2000 a 2006.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Um comentário:

  1. Sempre acusam Arruda, hoje inventaram a tal de denuncia que eu tenho certeza que não vai vingar porque ele é inocente. Se ele fosse culpado a denuncia ja teria saído antes, bem antes. Tudo armação e Durval.

    ResponderExcluir