quinta-feira, 3 de maio de 2012

Depois da pressão de Dilma, ações de bancos despencam

No primeiro dia útil após o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff na TV atacando os bancos pelos juros altos, o mercado reagiu e as ações das principais instituições financeiras do país despencaram. Enquanto o Ibovespa, índice de referência do mercado, subiu 0,98%, os papéis de todos os bancos recuaram. Os do Banco do Brasil (BB) caíram 2,71% porque os analistas entendem que a instituição pode ter sua margem de lucro reduzida com o corte drástico dos juros determinado pelo governo

Bancos ladeira abaixo

Ações caem até 2,7% após discurso de Dilma atacando juros cobrados pelas instituições

Vinicius Neder

As ações dos bancos tiveram forte queda na Bolsa de Valores de São Paulo ontem, primeiro dia de negociação após o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff atacando os juros cobrados pelas instituições. Enquanto o Ibovespa, índice de referência do mercado, subiu 0,98%, os papéis de todos os bancos recuaram. O Banco do Brasil (BB), cujas margens de lucro poderão ser diretamente afetadas pela redução nas taxas anunciadas no mês passado, teve a maior desvalorização: suas ações ordinárias (ON, com voto) caíram 2,71%. Em seguida vieram Itaú Unibanco PN (-2,48%), Bradesco PN (-1,4%) e Santander (-0,19%). Em abril, as desvalorizações acumuladas variaram de 3,9% (Bradesco PN) a 14,08% (Itaú Unibanco PN).

A discussão pública entre bancos privados e governo sobre o spread bancário (diferença entre o custo de captação e as taxas cobradas dos clientes), iniciada em março, ajudou a derrubar as ações desde então. O incômodo do Planalto começou em março, após o Banco Central (BC) cortar a taxa básica de juros pela quinta vez. A Selic até então já caíra de 12,5% para 9,75% e, para o governo, os bancos não estavam repassando os cortes ao consumidor. Ainda em março, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, reuniu-se com a equipe econômica em Brasília e pediu redução na carga tributária. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu e, no início de abril, BB e Caixa reduziram suas taxas. Em abril, a taxa básica caiu a 9% ao ano. Pouco depois, Bradesco, Itaú, Santander e HSBC anunciaram cortes.

Setor espera avanço menor do crédito

Além do temor de diminuição dos lucros com os cortes nas taxas, os resultados financeiros do primeiro trimestre do ano não foram bem recebidos. Segundo Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, resultados de Bradesco, Itaú e Santander apontaram aumento da inadimplência. O balanço do Banco do Brasil está previsto para sair hoje.

Para um analista do setor bancário que preferiu não se identificar, a reação do mercado pode ter sido "exagerada". No entanto, a aversão de investidores a interferências do governo e o cenário ruim para a Bolsa em abril também contribuem para as quedas.

Segundo pesquisa divulgada ontem pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), o setor revisou para baixo a projeção para o avanço total do crédito em 2012. Agora, a estimativa é de crescimento de 16,2%, ante 16,6% anteriores. Segundo Rubens Sardenberg, economista-chefe da entidade, os motivos para a redução são as incertezas no cenário externo, sobretudo com a Europa, e a inadimplência no Brasil. Mas os bancos preveem queda dos atuais 5,7% para 5,3% no fim deste ano.

FONTE: O GLOBO

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