quarta-feira, 23 de maio de 2012

Economistas criticam estratégia de curto prazo que foca o consumo

Ideal seria aumentar investimentos, fazer reformas e apostar em infraestrutura

Lucianne Carneiro

RIO e BRASÍLIA. Economistas afirmam que, ao recorrer mais uma vez ao consumo para estimular a economia brasileira, o governo pode esbarrar no endividamento da população. Apenas o incentivo ao crédito, portanto, não será suficiente para garantir a expansão econômica e é preciso estabelecer uma estratégia de longo prazo, com investimento em infraestrutura e a promoção de reformas tributária, trabalhista e previdenciária.

- Esses incentivos (ao consumo) já foram usados, é um remédio que vai perdendo o efeito. A questão é que a política econômica passou a ser uma série de pacotes. Estamos voltando ao voo da galinha e não vamos sair enquanto não fizermos reformas para elevar a produtividade - afirmou o professor da PUC-Rio Marcio Garcia.

Para o professor da FEA/USP Márcio Nakane, há um esforço do governo em assegurar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços no país) este ano, mas não se olha para a eficiência microeconômica:

- O governo quer salvar 2012, mas no esforço está comprometendo 2013, 2014, 2015... É uma estratégia de garantir o curto prazo, sem olhar para questões estruturais. É preciso uma estratégia de médio prazo para o país, com um conjunto de reformas.

Corrupção e burocracia travam investimentos

Já o professor de Economia da Uerj Luiz Fernando de Paula é cético em relação às reformas. Na sua avaliação, os investimentos públicos em infraestrutura seriam alternativa interessante:

- Mas o governo tem estratégia de aumentar o superávit primário para poder reduzir os juros, o que é uma iniciativa importante para o país. Isso, no entanto, restringe os investimentos.

De acordo com o especialista da Consultoria Tendências, Felipe Salto, dois problemas centrais prejudicam a performance do Executivo: a ineficiência e um baixo patamar de recursos destinados à área.

De acordo com dados do Tesouro Nacional, as despesas com investimentos chegaram a R$ 15,7 bilhões entre janeiro e março - alta de 23,5% frente a igual período de 2011. Mas o salto só foi possível graças a manobra fiscal que passou a contabilizar as despesas com o Minha Casa Minha Vida como investimentos, mesmo os subsídios.

- Os gastos são mal feitos e o patamar é muito baixo, pouco mais de 1% do PIB. Quando comparada ao gasto de pessoal, que é de 4% do PIB, vemos que é baixo. Frente a previdência e outros gastos de custeio, a diferença é gritante - afirma Salto.

Entraves como burocracia e demora nos licenciamentos também são apontados por especialistas como causa da baixa execução dos investimentos.

O governo também enfrenta dificuldades com obras já em andamento. É o caso dos empreendimentos que vinham sendo executados pela Delta, envolvida em denúncias de corrupção no escândalo que resultou na CPI do Cachoeira. O Executivo agora corre contra o tempo para encontrar empreiteiras que substituam a Delta em obras estratégicas, como as da Copa do Mundo.

Salto considera que os níveis de execução do PAC, o principal programa do governo, são péssimos. E o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem que discutirá a partir de junho com o Tesouro o cronograma de um aporte de recursos de R$ 45 bilhões, o quinto desde 2009, para alcançar R$ 150 bilhões em desembolsos este ano.

Colaborou Marcio Beck

FONTE: O GLOBO

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