sábado, 26 de maio de 2012

Egos e imoralidade:: Paul Krugman

É espantoso ler sobre antigos partidários dos democratas em Wall Street aderindo a Romney

Depois de uma crise financeira devastadora, o presidente Barack Obama impôs regulamentações modestas e obviamente necessárias; propôs remover algumas lacunas absurdas do código tributário.

E sugeriu que o histórico de Mitt Romney na aquisição e venda de companhias, o que muitas vezes envolveu demissão de funcionários e sérios prejuízos aos seus fundos de pensão, não faz dele o homem certo para comandar a economia dos Estados Unidos.

Wall Street respondeu com lamúrias e chiliques, como era previsível. Vocês se lembram de quando Stephen Schwarzman, do Blackstone Group, comparou uma proposta de limitação dos benefícios tributários de que usufrui à invasão da Polônia por Hitler?

E de quando Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, descreveu qualquer discussão sobre desigualdade de renda como ataque ao conceito de sucesso?

Mas aí é que está: se os executivos de Wall Street são meninos mimados, são meninos mimados que exercem imenso poder e contam com imensa riqueza.

E o que eles vêm tentando fazer agora com esse poder e com essa enorme riqueza é comprar não só políticas que sirvam aos seus interesses, mas também imunidade a quaisquer críticas.

Imensa riqueza não basta; eles também desejam deferência, e estão fazendo tudo que podem para comprá-la.

É espantoso ler sobre antigos partidários dos democratas em Wall Street aderindo abertamente à candidatura de Romney não porque acreditem que ele tenha boas ideias políticas, mas porque encaram como insultos pessoais as amenas críticas do presidente Obama aos excessos financeiros.

E vem sendo especialmente triste ver alguns políticos democratas ligados a Wall Street, como Cory Booker, prefeito de Newark, em Nova Jersey, saindo zelosamente em defesa dos egos surpreendentemente frágeis de seus amigos.

De certa forma, podemos considerar que o comportamento egocêntrico de Wall Street é até mesmo engraçado.

Mas além de engraçado ele é também profundamente imoral.

Pense sobre a situação que vivemos agora, o quinto ano de uma recessão causada por banqueiros irresponsáveis.

Os banqueiros foram resgatados, mas o restante do país continua a sofrer terrivelmente, com desemprego em longo prazo de nível que não se via desde a Grande Depressão, e toda uma faixa etária de jovens norte-americanos chegando ao pior dos mercados de trabalho.

E em meio a esse pesadelo nacional, número excessivo de membros da elite financeira parece mais preocupado com o fato de que o presidente magoou seus sentimentos.

Isso não é engraçado. É uma vergonha.

Tradução de Paulo Migliacci

FONTE:: FOLHA DE S. PAULO

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