sexta-feira, 4 de maio de 2012

Em reunião política, Dilma ataca bancos

Líderes ressaltam determinação da presidente para reduzir os juros. Câmbio e carga tributária são próximos alvos

Maria Lima, Cristiane Jungblut e Luiza Damé

O DILEMA DOS JUROS

BRASÍLIA. Os líderes da base aliada que participaram da reunião do Conselho Político saíram impressionados com a segurança e a determinação demonstradas pela presidente Dilma Rousseff na batalha contra os juros altos. Na mesma linha do discurso feito na TV na véspera do dia 1º de maio, Dilma usou palavras duras para atacar os bancos e avisou que os próximos passos serão para acabar com as amarras do câmbio, a injusta tributação de produtos de primeira necessidade e o alto preço de impostos de energia e serviços de comunicação.

Dilma disse que os bancos terão que se adaptar à nova realidade e trabalhar em outros patamares de juros e tarifas.

- As tarifas cobradas pelos bancos são estarrecedoras! É um roubo o que esses bancos cobram para administrar os fundos de rendimento. Enquanto no exterior as taxas variam entre 0,2% e 0,3%, no Brasil os bancos chegam a cobrar 3% - criticou Dilma, segundo o relato de um dos líderes presentes.

A presidente pediu apoio aos líderes partidários para as novas regras de correção da poupança e deixou claro que entendia os riscos, mas que a medida era fundamental para a queda dos juros no Brasil. Segundo participantes do encontro, Dilma disse que sua prioridade é ter no Brasil juros compatíveis com padrões internacionais, listando um tripé de dificuldades: juros altos, valorização cambial e impostos mal distribuídos.

- Não estou aqui para vender facilidade, e sim para fazer a coisa certa. A taxa de juros não pode ficar como está - disse a presidente, segundo parlamentares.

Dilma foi alertada pelos líderes sobre o perigo de perder a "batalha da comunicação". A maior preocupação dos partidos foi no sentido de ter garantias de que as atuais cadernetas não seriam atingidas e de que os poupadores não perderiam direitos. Os mais experientes chegaram a orientar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a evitar expressões como "mexer na poupança", bem como a enfatizar a "manutenção de direitos".

Durante a conversa, vários líderes lembraram da tentativa frustrada de mudar os rendimentos da poupança em 2009, no governo Lula, quando surgiu a proposta de cobrar Imposto de Renda de cadernetas acima de R$ 50 mil. A presidente brincou, dizendo que Mantega evoluíra.

À preocupação velada de alguns líderes com uma possível má repercussão das mudanças na poupança - resquício do trauma do confisco do governo Collor -, Dilma respondeu que esse era um tema extremamente delicado, mas que era preciso convencer "João e Maria" de que , se não fosse extremamente necessário para baixar os juros, ela não tomaria tal iniciativa.

Na reunião, alguns líderes chegaram a defender que a própria presidente, usando sua credibilidade e alta popularidade, fizesse o anúncio das mudanças na caderneta. Mas Dilma manteve a decisão de deixar o anúncio para Mantega.

Antes da reunião com os líderes, o ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB-AL), que agora faz parte da base aliada do governo, era um dos que, em conversas com interlocutores, mostrou preocupação com o impacto da medida.

- Todos os blogs estão contra. Será que a presidente Dilma não aprendeu comigo? - disse, relembrando que até hoje paga o preço pelo confisco da poupança em seu governo.

Quando os líderes chegaram para a reunião, Dilma já estava com o discurso na ponta da língua. Fora Mantega, só quis saber da opinião do ex-ministro da Fazenda Francisco Dornelles (PP-RJ), atual presidente do PP. Dilma fez questão de ouvi-lo porque o considera uma voz importante na macroeconomia.

- Presidenta, é uma medida acertada. Mas por que fazer o corte no dia 3 de maio? Por que não deixar o dinheiro ir entrando? - perguntou Dornelles.

Nesse momento, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), interrompeu o ex-ministro, para manifestar seu apoio a Dilma, mas foi cortado pela própria presidente.

Dilma estava impaciente e disse que ninguém discursaria porque tinha mais duas reuniões a fazer. Reclamou com Mantega que ele não estava respondendo ao que lhe era perguntado. Mas a bronca maior foi para o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que mencionou na reunião um novo pacote na área social que Dilma quer anunciar no Dia das Mães.

- Não fale sobre isso! O assunto hoje não é esse. Quem disse que era para falar sobre isso? É segredo! - disse Dilma, deixando os presentes desconcertados e Chinaglia mudo.

- A presidenta está tão segura e confiante que acho até perigoso! Ela não deixa ninguém falar. - comentou depois um dos líderes.

Antes de se reunir com políticos aliados, sindicalistas e empresários, para apresentar a proposta de alteração na poupança, Dilma voltou a repetir o que já se tornou um mantra de sua gestão: a necessidade de o país ter uma taxa de juros real de 2% ao ano.

Na posse do novo ministro do Trabalho, Brizola Neto, a presidente afirmou que o Brasil tem três grandes problemas a solucionar: taxa de juros, câmbio e carga tributária. Mas admitiu que essas amarras não podem ser resolvidas "do dia para a noite":

- É um processo sistemático - afirmou Dilma.

FONTE: O GLOBO

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