segunda-feira, 28 de maio de 2012

Encontro de Lula e Mendes mobiliza o STF e a oposição

Por Fernando Exman, Edna Simão e Marta Watanabe

A notícia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria procurado o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para propor que o julgamento do mensalão fosse adiado em troca de proteção na CPI do Cachoeira já provoca reações na Corte. Deve alimentar a polêmica tanto sobre os rumos e a influência de Lula sobre as investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito quanto sobre o interesse do ministro Gilmar Mendes na denúncia.

Segundo a "Veja", Lula teria se reunido com Gilmar Mendes no escritório do ex-ministro Nelson Jobim. No encontro, descreve a reportagem, Lula teria dito que seria "inconveniente" julgar neste momento o caso do mensalão, o suposto esquema feito na gestão do petista para comprar apoio no Congresso. Lula também teria feito referências a uma viagem a Berlim em que Mendes se encontrou com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO, ex-DEM), cujo elo com o bicheiro Carlinhos Cachoeira têm sido investigados pela CPI.

Dos três participantes do encontro, dois contestam o relato do terceiro, Gilmar Mendes. Jobim negou ao blog do jornalista Jorge Bastos Moreno que Lula teria mencionado o mensalão no encontro. Segundo o ex-ministro, uma assessora do ex-presidente avisara três dias antes que faria uma visita ao seu escritório em Brasília. Lá chegando, Lula teria encontrado Mendes. O julgamento do mensalão, segundo Jobim, teria sido um assunto de sua iniciativa. Ele refuta a versão de Mendes sobre o encontro e a suposta chantagem do ex-presidente da República. O ex-ministro não diz, no entanto, se o presidente e o ministro do Supremo haviam sido avisados previamente da presença de um e do outro no seu escritório.

A assessoria de Lula diz que não houve nenhuma conversa sobre o mensalão e que o ex-presidente não fará comentários sobre o assunto.

Fontes próximas a Lula dizem que encontro com Mendes, teria acontecido à revelia de Lula. O ex-presidente, teria ido ao escritório do ex-ministro sem saber da presença de Mendes. Em nenhum momento Lula teria ficado a sós com Mendes. Para essas fontes, Lula teria caído numa armadilha, parte de uma manobra para vincular a CPI de Cachoeira ao mensalão por meio da figura do ex-presidente.

Segundo a "Veja", a reunião teria acontecido em 26 de abril, um dia depois que foi instalada no Congresso a CPI para investigar as ligações de Cachoeira com políticos de todos os partidos. A matéria da Veja foi veiculada somente no sábado, um mês depois do encontro. Foi também à "Veja" que Mendes, em 2008, disse ter sido vítima de um grampo telefônico numa conversa com Demóstenes Torres. O episódio levou à queda do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda. O grampo nunca foi comprovado.

O caso já repercute no Supremo. O ministro Marco Aurélio considerou que o ex-presidente Lula teria tido uma atitude "algo descabido" num "lamentável episódio", mas assegurou que gestões desse tipo não influenciarão o julgamento do mensalão. "Em termos republicanos e democráticos, não se admite determinadas práticas", destacou o ministro. "Que fique uma certeza: um ministro do Supremo não é cooptável."

O ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo no Supremo, negou que tenha sido alvo das gestões do ex-presidente. "Jamais fui procurado pelo presidente Lula para tratar de nada a respeito do processo do mensalão e jamais sofri qualquer tipo de pressão", disse Lewandowski, por meio de sua assessoria de imprensa.

Na sexta-feira, antes de a reportagem da "Veja" ser publicada, o presidente do STF, ministro Ayres Britto, também descartou a possibilidade de a Corte ser pressionada. "Ainda está para aparecer alguém que ponha uma faca no pescoço dos ministros do STF", afirmou. Ao "O Estado de S.Paulo" Ayres Britto disse não acreditar que Lula faria isso, "porque em nove anos nunca fez".

A revista "Veja" diz ainda que Lula também estaria procurando outros ministros do Supremo, os quais teria nomeado para o cargo, também para pressionar pelo adiamento da inclusão do caso do mensalão na pauta do Supremo. O julgamento está previsto para ocorrer em agosto.

A oposição considerou "gravíssima" a denúncia e uma afronta de Lula ao Judiciário e ao Congresso. "Isso revela que o presidente Lula, tal como os que negam o Holocausto, quer negar a existência do mensalão. A ação dele tem sido neste sentido", afirmou o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), integrante da CPI do Cachoeira. "Estamos avaliando que providência tomar. Se cabe, por exemplo, uma interpelação judicial. Estamos procurando fazer o que é viável."

Para o líder tucano, tentar convocar ou convidar Lula para ir à CPI, que tem ampla maioria governista, seria uma iniciativa fadada ao fracasso. "Ninguém aprovaria isso", acrescentou. "É grave a tentativa de usar a CPI politicamente como instrumento o político para atingir objetivos obscuros."

Já o líder do DEM na Câmara, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), frisou que o partido também vai avaliar o assunto hoje. "Vamos conversar com o PSDB para tomarmos uma decisão conjunta", contou. Na avaliação dele, o comportamento de Lula "só reforça que o PT está manipulando politicamente a CPI e quer tentar comprometer o julgamento de grave caso de corrupção ".

Mendes e Jobim não atenderam aos telefonemas do Valor.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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