domingo, 27 de maio de 2012

Estudo vê reeleição como desvantagem

Dados indicam que candidatos a prefeito têm desempenho mais fraco quando concorrem no exercício do cargo

Daniel Bramatti

Os cientistas políticos Ricardo Ceneviva e Thomas Brambor analisaram dados das eleições municipais de 1996, 2000, 2004 e 2008 e fizeram uma descoberta que contraria praticamente tudo o que já se escreveu sobre o instituto da reeleição: no caso dos prefeitos, o fato de estar no cargo durante a campanha mais atrapalha do que ajuda na busca pelos votos.

A conclusão é surpreendente porque a taxa de reeleição nas prefeituras é alta - chega a 62%, nas médias das três últimas disputas municipais. Mas não é correto relacionar diretamente esse índice a supostas vantagens inerentes ao exercício do cargo - maior visibilidade e "uso da máquina", por exemplo. Obviamente, há outros fatores que influenciam o eleitorado.

Um prefeito que se reelege, é bom lembrar, já venceu uma eleição antes, e, portanto, já demonstrou ter vantagens em relação aos demais candidatos. Essas vantagens podem ser carisma, mais dinheiro na campanha, força do partido, entre outras.

Para evitar que essas variáveis contaminassem sua pesquisa, o brasileiro Ceneviva (pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole/Cebrap) e o alemão Brambor (da universidade Stanford) limitaram o número de candidatos a serem avaliados, com base em sua performance nas urnas.

Tome-se como exemplo alguém que tenha, em sua primeira campanha, o dobro dos votos do segundo colocado. Pode-se concluir, com alto grau de certeza, que se trata de uma pessoa popular, cuja campanha foi bem conduzida e contou com respaldo dos grupos políticos majoritários no município. Se essa mesma pessoa vence quatro anos depois, pode-se dizer que o resultado se deve a uma vantagem inerente ao instituto da reeleição? A resposta é não - provavelmente, o candidato venceu graças aos mesmos fatores que o levaram à vitória na primeira disputa.

Políticos "especiais" como esses não foram levados em conta no estudo. Foram considerados apenas aqueles que, ao serem eleitos pela primeira vez, tiveram vitória apertada, por margem pequena em relação ao segundo colocado. Isso significa que fatores como carisma, dinheiro e estrutura de campanha não representaram vantagem significativa.

O passo seguinte foi analisar o desempenho eleitoral desses "vencedores por pouco" quatro anos depois, quando estar no cargo de prefeito era o fator que marcava a diferença fundamental em relação a suas campanhas anteriores. A lógica indica que, se a reeleição fosse uma vantagem, esses candidatos teriam uma margem de vitória maior que na campanha anterior.

Mas não foi isso que os números mostraram. Na maior parte dos casos, os prefeitos que buscaram se reeleger tiveram margem menor em relação ao segundo colocado - ou mesmo perderam para os desafiantes. Na média de 4 mil candidatos, a margem caiu 4 pontos porcentuais.

O estudo não avaliou as causas do fenômeno. Mas detectou que a desvantagem dos prefeitos é maior nas cidades pequenas e mais pobres. Prefeitos do PT, diferentemente dos demais, têm pequena vantagem eleitoral ao buscar a reeleição.

Pesquisa considera resultados de mais de 4 mil candidatos

O estudo de Ricardo Ceneviva e Thomas Brambor analisou dados de 22 mil disputas municipais, entre 1996 e 2008, e de mais de 40 mil candidatos.

Levando-se em conta apenas os candidatos que, ao serem eleitos pela primeira vez, tiveram vitórias apertadas (margem de até 5 pontos porcentuais), esse universo cai para cerca de 4 mil candidatos.

A pesquisa observou que a desvantagem eleitoral dos detentores de cargos de prefeito tem diminuído ao longo do tempo. Na disputa de 2008, na média, houve até vantagem para os que buscaram a reeleição. Mas ela é pequena e "estatisticamente insignificante", de acordo com os pesquisadores.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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